O termo ecologia (do grego oikos, "casa" e -logia, "estudo de") foi introduzido por Ernst Haeckel (1834-1919) no seu livro Natürliche Schöpfungsgeschichte [História da Criação Natural] (1868), traduzido para inglês em 1876 sob a supervisão do zoólogo E. Ray Lankester (1847-1929), com o título The History of Creation.
Nas palavras de Haeckel, a ecologia assenta numa premissa claramente materialista, alheia a quaisquer intenções do Criador:
"A ecologia dos organismos, o conhecimento da soma das relações dos organismos com o mundo exterior circundante, com as condições orgânicas e inorgânicas de existência; a chamada "economia da natureza", as correlações entre todos os organismos que vivem juntos numa mesma localidade, sua adaptação ao meio, sua modificação na luta pela existência, especialmente as circunstâncias dos parasitismos, etc. São apenas esses fenómenos na “economia da natureza” que os não-científicos, numa consideração superficial, costumam considerar como arranjos sábios de um Criador agindo para um propósito definido, mas que, num exame mais atento, mostram ser os resultados necessários de causas mecânicas." (Haeckel 1876, vol2, p. 354).
Não é por acaso que a revisão do livro é realizado por Ray Lankester, admirador de Charles Darwin (1809-1882) e amigo de Karl Marx (1818-1883), autores que partilhavam dessa recusa duma visão teleológica do mundo natural. Lankester é a única figura que se sabe ter estado no funeral de ambos. Por volta de 1879-80, ele tornara-se amigo próximo e visita assídua de Karl Marx e da sua filha Eleanor (1855-1898). Segundo Foster, "Marx sem dúvida achou atraente o materialismo e o radicalismo completos de Lankester" (Foster 2020, p. 37), sendo possível encontrar nas suas obras e correspondência fortes indícios das trocas de ideias entre ambos.
Ray Lankester foi um influente autor e professor de zoologia geral na viragem do século XIX para o século XX, tendo realizado importantes contribuições para a anatomia comparada, a embriologia, a parasitologia e a antropologia. Foi professor nas Universidades de Londres (1874-90) e de Oxford (1890-1898) e na Royal Institution, em Londres (1898-1900) e diretor do Natural History Museum, de Londres (1898-1907).
Lankester, ele próprio um pioneiro da ecologia, preferiu usar o termo "bionomics [bionomia]" (do grego bio, "vida" e -nomos, "lei") em vez de "ecologics [ecologia]", o que fez no artigo "The history and scope of zoology", primeiro publicado na nona edição da Encyclopædia britannica (1888). Neste artigo, reeditado na coletânea The advancement of science. Occasional essays & addresses (1890), Lankester considerava que se podia dizer que "Darwin fundou a ciência da bionomia" (Lankester 1890, p. 367).
Segundo Lankester, que fora um dos principais fundadores da Marine Biological Association em 1884 e seu presidente entre 1890 e 1929,
"A fundação de laboratórios biológicos marinhos sob o controle de zoólogos científicos oferece uma perspetiva de verdadeira observação e experiência bionómica em escala aumentada num futuro próximo, e onde tais laboratórios fossem fundados nas nossas universidades e dotados dos aparelhos necessários para manter animais terrestres e de água doce, assim como as formas marinhas, vivas e observadas em condições o mais próximas possíveis das da natureza, teria sido dado um passo no sentido de fazer avançar o estudo da Bionomia que não pode ser adiado." (Lankester 1890, pp. 369-70).
O termo bionomia só foi substituído por ecologia, como o preferido pelos biólogos, no início do século XX.
Nota:
J. B. Foster dedica todo o primeiro capítulo, "Ecological Materialism", de The Return of Nature (pp. 24-72) a E. Ray Lankester. Foster não se limita a abordar o seu pensamento ecológico, traçando igualmente o perfil biográfico, tanto de Ray como de seu pai, o médico Edwin Lankester (1814-1874), e discutindo o seu pensamento relativamente a questões como a degeneração, a "questão feminina", ao darwinismo social e à eugenia. Aborda igualmente a sua relação com Marx e aspetos do seu posicionamento sócio-político.