O aumento brutal do preço da energia, dos cereais e outras matérias primas está já a empurrar a inflação e as taxas de juro para novos patamares, anunciando um possível cenário recessivo no médio prazo, que reduzirá certamente as verbas disponíveis internacionalmente para as medidas de combate às alterações climática.
Segundo o Fundo Monetário Internacional:
Para uma visão geral do impacto dos conflitos militares para as alterações climáticas, ver o texto "How does war contribute to climate change?" publicado no site Conflict and Environment Observatory a 14 de junho de 2021. O mesmo site publica informação atualizada sobre o impacto ambiental do conflito.
A indiscriminada e massiva destruição de zonas habitacionais e infraestruturas civis ucranianas, incluindo centrais elétricas, por parte do exército russo, acarretará, para além do custo de vidas inocentes, um peso ainda incalculável na pegada de carbono europeia. O necessário investimento para a sua reconstrução consumirá grande parte das verbas de apoio disponíveis.
Igualmente segundo o Fundo Monetário Internacional:
O ataque e ocupação de centrais nucleares ucranianas por parte do exército russo, como a Central Nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa e com seis reatores, além de abrir a porta a acidentes graves, levanta interrogações sobre a sua possível utilização como arma económica, no sentido de promover o aumento da já grande dependência europeia do petróleo e gás russos."Na Ucrânia, além dos custo humanos, os danos económicos já são substanciais. Portos marítimos e aeroportos estão fechados e foram danificados, e muitas estradas e pontes foram danificadas ou destruídas. Embora seja muito difícil avaliar com precisão as necessidades de financiamento nesta fase, já está claro que a Ucrânia enfrentará custos significativos de recuperação e reconstrução."
Vários autores chamam a atenção para a dependência europeia dos combustíveis fósseis russos, que recebe cerca de 70% das exportações de gás e metade das exportações de petróleo desse país. A Europa depende da Rússia para suprir 40% destas necessidades energéticas.
A vontade da Alemanha e de outros países de reduzir a dependência das importação russa, poderá levar a um incremento sustentado do investimento na eficiência energética e nas energias renováveis, o que terá um efeito positivo nas políticas ambientais. Logo no início da agressão, a Alemanha suspendeu o projeto da já concluída ligação direta de gás entre a Alemanha e a Rússia, o gasoduto Nord Stream 2, parando o seu processo de certificação.
Contudo, no curto e médio prazo, a redução da dependência do gás e petróleo russos pode ser conseguido através do recurso a outros combustíveis fósseis. Por exemplo, usando mais carvão para produção de energia. Esta é a opinião do diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), Ottmar Edenhofer. No curto e médio prazo, o governo alemão também planeia estabelecer reservas estratégicas de carvão e gás e construir terminais de gás natural liquefeito (GNL) para diversificar a oferta.
Segundo Steve Cohen, no State Planet, não será inteiramente claro o efeito da guerra na política climática dos EUA, com a possibilidade de o Supremo Tribunal destruir a Lei do Ar Limpo e contradizer uma decisão anterior, da era George W. Bush, que definiu os gases de efeito estufa como um poluente perigoso, que requer regulamentação da U.S. Environmental Protection Agency.
Olivia Lazard, no Carnegie Europe, entrevistou François Gefmenne, um dos principais autores do último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). Entrevistador e entrevistado levantam questões relativas aos objetivos e consequências da invasão nas cadeias de abastecimento de minerais e outras mercadorias essenciais para as estratégias de descarbonização.
O anunciado aumento do orçamento militar por parte da Alemanha, que vai possivelmente ter lugar num contexto de depressão económica e arrastar outros países europeus para semelhantes investimentos, irá competir com outras medidas, incluindo as de combate às alterações climáticas.
- Olivia Lazard, "Russia’s Ukraine Invasion and Climate Change Go Hand in Hand". Carnegie Europe. 4 de março de 2022.
- "IMF Staff Statement on the Economic Impact of War in Ukraine". 5 de março de 2022.
- Somini Sengupta e "War Abroad and Politics at Home Push U.S. Climate Action Aside". The New York Times. 5 de março de 2022.
- Steve Cohen, "The Impact of Russia’s Invasion of Ukraine on Climate Change Policy". State of the Planet. 7 de março de 2022.
- Oliver Milman, "‘This is a fossil fuel war’: Ukraine’s top climate scientist speaks out". The Guardian. 9 de março de 2022.
- "Ukraine war: Tracking the impacts on German energy and climate policy", Clean Energy Wire. 11 de março de 2022.