É amanhã.
Homens e Medicamentos. História da Farmácia e da Terapêutica
LANÇAMENTO | 26 out. '22 | 18h00 | Auditório da Biblioteca Nacional
Blogue dedicado ao papel da história e do pensamento na compreensão da relação entre o homem e a natureza
Homens e Medicamentos. História da Farmácia e da Terapêutica
LANÇAMENTO | 26 out. '22 | 18h00 | Auditório da Biblioteca Nacional
Lezíria do Tejo é o caderno de campo para um projeto sobre o Património Natural e Cultural e a História do Ribatejo e da Lezíria do Tejo, a planície aluvial do Tejo, em Portugal.
Este trabalho é visto eventualmente como parte de uma futura Rota Cultural das planícies de cheia da Europa (ver a página do programa Rotas Culturais do Conselho da Europa).
Nas suas próprias palavras: “Lançados pelo Conselho da Europa em 1987, os Percursos Culturais demonstram, através de uma viagem no espaço e no tempo, como o património e culturas dos diferentes países da Europa contribui para um património cultural vivo e partilhado. ”
Para uma visão geral das planícies aluviais europeias, consulte o visualizador de estatísticas de planícies aluviais da Rede Europeia de Informação e Observação do Ambiente (Eionet).
Grande parte deste projeto tem estado a ser realizado como um trabalho de lazer e tempos livres, envolvendo a colaboração de Diana Carvalho e José Pedro Sousa Dias. É à Diana que devemos a crescente sensibilização para a região do Ribatejo, onde passámos a maior parte do tempo durante a pandemia de Covid-19. O rio Tejo e as suas planícies foram um refúgio e santuário caloroso e acolhedor durante este período.
O projeto visa a publicação deste portal e, eventualmente, de um guia impresso.
Vi hoje o documentário "Sita - A vida e o Tempo de Sita Valles", de Margarida Cardoso, em exibição em Lisboa, e que pode ser adquirido igualmente em DVD (pelo menos no Cinema Ideal).
Os factos narrados não são, na maioria, novos. Mas vê-los ditos na primeira pessoa, por muitos dos intervenientes que os viveram de perto, foi um enorme murro no estômago.
Para além do que se abateu sobre a Sita, o seu marido e os restantes protagonistas principais, fica uma enorme perplexidade sobre como um Estado, um Partido e um Presidente assassinaram, de forma sumária e prolongada no tempo, dezenas de milhares de cidadãos do seu jovem país, para assegurarem que o lugar deixado vago pelos anteriores colonos podia por eles ser ocupado, sem terem que dividir as suas riquezas pela grande massa da população.
Fizeram-no com o apoio, a cumplicidade ou o silêncio de atores do bloco de Leste e do chamado mundo ocidental.
Fizeram-no com o apoio e a cumplicidade de Cuba e da URSS, o que não estranha se atendermos a que o que se passou em Angola em 1977-78 foi muito semelhante ao que os dirigentes soviéticos e do Comintern fizeram a Andreu Nin e ao Partido Obrero de Unificación Marxista durante a guerra civil espanhola.
Mas também o fizeram com o silêncio cúmplice do Governo e do Estado português, por motivos de convicção política ou para não pôr em risco a partilha de algumas migalhas das riquezas angolanas.
A todos estes se juntou a cumplicidade de Álvaro Cunhal e do Partido Comunista Português, por motivos e de uma forma que não deixa de apresentar contornos semelhantes aos que levaram este partido a tomar a sua conhecida posição face à atual invasão russa da Ucrânia.
Até agora, só o atual Presidente de Angola, João Lourenço, tomou a iniciativa de romper o véu do silêncio. Seria o momento de outros o fazerem.
O PCP continua alegremente na senda do apoio objetivo a Vladimir Putin, ao votar contra o convite a V. Zelenski para falar no parlamento português e na argumentação com que alertou para “manipulação” e pede investigação rigorosa sobre as mortes de civis na cidade de Bucha.
É verdade que a retórica do PCP se coloca numa hipotética neutralidade entre ambos os lados do conflito, mas esquecer que um dos países (sem dúvida o mais forte) é o invasor e o outro (o mais fraco) é o invadido e pô-los em pé de igualdade só porque os EUA, a NATO e a UE dão a este último um apoio parcial e limitado, é claramente um sofisma.
A continuada insistência nas teses sobre os nazis ucranianos e sobre a falta de
provas acerca dos crimes de guerra russos, quando é evidente a falta de
apoio aos primeiros por parte dos eleitores ucranianos e quando a
deliberada destruição de alvos civis por parte dos russos se encontra
mais que demonstrada, tanto na Ucrânia como na Síria (que curiosamente não é
diretamente mencionada no comunicado de imprensa do PCP), é uma técnica
antiga de distorção deliberada dos factos.
Ao defender estas posições, o PCP mantém-se próximo do Partido Comunista da Federação Russa, que apoia a intervenção militar russa no Donbass:
"A Rússia está-se finalmente a afastar da idolatria perniciosa do Ocidente…. É hora de mostrar o nosso caráter no Donbass. Estamos rodeados por uma cadeia de Estados hostis. É impossível recuar mais. O Ocidente deve sentir a determinação da Rússia em defender a si mesmo e seus amigos. (...)
Estamos prontos para apoiar as medidas decisivas do governo para proteger a segurança da Rússia e dos nossos concidadãos nas Repúblicas Populares da região de Donbass." [Artigo de opinião de Gennady Zyuganov, atual líder do PC da FR de 4 de fevereiro de 2022 [Peoples World].
A 5 de abril, o mesmo G. Zyuganov defendeu na reunião plenária da Duma que a Ucrânia "deve ser libertada do nazismo e dos banderistas", apelidando de histórica a decisão de Putin de iniciar a invasão:
“Todos entendem que a Ucrânia deve ser libertada do nazismo e dos banderistas. Todos estão cientes de que a decisão do Presidente da Federação Russa de iniciar a operação visando a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia é histórica. Mas todos entendem que se pararmos e os nazistas ainda detiverem o poder, a situação será ainda pior” [Página da Duma].
Ao recusar de facto o direito dos ucranianos se armarem e defenderem da agressão, o PCP afasta-se das teses de Lenine sobre o respeito pelas nacionalidades e aproxima-se da visão imperial de Estaline, posições abertamente partilhadas por Putin [ver Lipman, Masha. 2014. "Putin Disses Lenin". The New Yorker, 3 de Setembro de 2014. https://www.newyorker.com/news/news-desk/putin-disses-lenin].
No seguimento das Teses sobre a Questão Nacional, que escrevera em 1913, Lenine deixou bem claro em 1917 que:
"nenhum democrata pode negar o direito da Ucrânia de se separar livremente da Rússia. Somente
o reconhecimento irrestrito desse direito permite defender uma união
livre dos ucranianos e dos russos, uma associação voluntária dos dois
povos em um Estado. Só
o reconhecimento incondicional deste direito pode realmente romper
completa e irrevogavelmente com o maldito passado czarista, quando tudo
foi feito para provocar um distanciamento mútuo dos dois povos tão
próximos um do outro em língua, território, caráter e história. O
maldito tsarismo fez dos russos carrascos do povo ucraniano e fomentou
neles o ódio por aqueles que até proibiam as crianças ucranianas de
falar e estudar em sua língua natal." [Publicado pela primeira vez no Pravda nº 82, 28 (15) de junho de 1917. Publicado de acordo com o texto do Pravda. Marxists Internet Archive.]
Já há muito tempo que o PCP parece ter sacrificado uma visão crítica da realidade internacional em favor de uma concentração de esforços na realidade nacional. Mas se tal podia fazer algum sentido quando ainda existia a ditadura em Portugal e a Rússia era a URSS, a presente colagem ao PC da Federação Russa surge como um mero reflexo atávico e irracional.
Tudo indica, contrariamente ao vaticinado por vários comentadores, que o PCP não vai morrer soterrado pela pirâmide etária. Por este caminho vai-se tristemente afogar nas águas paradas da estupidez. E é pena. O saudável equilíbrio de forças da democracia ficará certamente a perder.