Vi hoje o documentário "Sita - A vida e o Tempo de Sita Valles", de Margarida Cardoso, em exibição em Lisboa, e que pode ser adquirido igualmente em DVD (pelo menos no Cinema Ideal).
Os factos narrados não são, na maioria, novos. Mas vê-los ditos na primeira pessoa, por muitos dos intervenientes que os viveram de perto, foi um enorme murro no estômago.
Para além do que se abateu sobre a Sita, o seu marido e os restantes protagonistas principais, fica uma enorme perplexidade sobre como um Estado, um Partido e um Presidente assassinaram, de forma sumária e prolongada no tempo, dezenas de milhares de cidadãos do seu jovem país, para assegurarem que o lugar deixado vago pelos anteriores colonos podia por eles ser ocupado, sem terem que dividir as suas riquezas pela grande massa da população.
Fizeram-no com o apoio, a cumplicidade ou o silêncio de atores do bloco de Leste e do chamado mundo ocidental.
Fizeram-no com o apoio e a cumplicidade de Cuba e da URSS, o que não estranha se atendermos a que o que se passou em Angola em 1977-78 foi muito semelhante ao que os dirigentes soviéticos e do Comintern fizeram a Andreu Nin e ao Partido Obrero de Unificación Marxista durante a guerra civil espanhola.
Mas também o fizeram com o silêncio cúmplice do Governo e do Estado português, por motivos de convicção política ou para não pôr em risco a partilha de algumas migalhas das riquezas angolanas.
A todos estes se juntou a cumplicidade de Álvaro Cunhal e do Partido Comunista Português, por motivos e de uma forma que não deixa de apresentar contornos semelhantes aos que levaram este partido a tomar a sua conhecida posição face à atual invasão russa da Ucrânia.
Até agora, só o atual Presidente de Angola, João Lourenço, tomou a iniciativa de romper o véu do silêncio. Seria o momento de outros o fazerem.