Falar de processar documentos científicos fora do MS Word, só por si já basta para indiciar algum grau de bizarria académica. Falar de o fazer sem usar um processador de texto que seja inteiramente compatível com o mesmo programa (como o Writer do OpenOffice.org), isso pode mesmo equivaler a uma manifestação pública de insanidade. No entanto, é precisamente isso que vou aqui fazer. O LyX é o programa cuja utilização me convenceu em definitivo a trocar o Windows pelo Linux, há já alguns anos, o que hoje, só por si, já não seria necessário, dado existir uma versão do LyX que funciona adequadamente no Windows. É com este programa que escrevo tudo o que sejam documentos de investigação e ensino, quer estes se destinem a ser impressos em papel, distribuídos em PDF, ou publicados na Web em HTML. Também utilizo o Writer, mas praticamente só para a correspondência ou para pequenos textos que se destinem a ser alterados por colegas que só usam o Word. Para os textos de médias ou grandes dimensões em que o formato Word tenha que ser utilizado, prefiro proceder à conversão no final do processo, utilizando uma das ferramentas disponíveis. Não é aqui o momento para discutir esta questão, mas a utilização do formato proprietário e binário do *.DOC do MS Word como standard de facto para a comunicação electrónica de documentos constitui uma aberração e um risco do ponto de vista técnico e um erro e uma má prática do ponto de vista científico. Até o Estado do Massachussets já percebeu isso (ver artigo no Groklaw).
O LyX é um programa que funciona como uma interface gráfica do LATEX, permitindo que um investigador utilize os recursos avançados desta linguagem sem necessitar de a conhecer. No futuro próximo, o LATEX será naturalmente substituído pelo XML, nomeadamente pelo DocBook XML, mas os processadores de documentos neste último formato, pelo menos os de software livre, ainda são muito rudimentares e pouco práticos. O LyX é, nas palavras dos próprios autores, um processador de documentos. Isto significa que, embora a utilização do LyX tenha parecenças com a de um processador de texto, o utilizador só necessita de se concentrar na redacção do conteúdo e na atribuição de categorias e de algumas propriedades aos diferentes elementos do texto. O LYX funciona um pouco como um processador onde o autor atribui estilos aos diferentes parágrafos e elementos do documento, mas onde não tem que se preocupar com o aspecto dos mesmos, excepto através da definição global do tipo de documento que pretende produzir. Da formatação final do mesmo, encarrega-se o próprio sistema de composição, o TEX. Aquilo que o utilizador visualiza no monitor é uma imagem representando o que ele pretende que o texto seja, não como este ficará depois de composto, embora esta última imagem possa ser visualizada a qualquer momento.
Como todas as interfaces gráficas, o LyX, introduz algumas limitações aos recursos e opções do LATEX, mas mesmo isso não constitui um problema. Além de podermos incluir comandos do LATEX directamente no texto, dentro do próprio LyX, temos sempre a possibilidade de produzir um ficheiro em LATEX, modificá-lo com um editor de texto e processá-lo directamente como o faríamos sem o LyX. Se não necessitarmos de funcionalidades não incluídas no LyX, nem sequer necessitamos de ver ou processar o LATEX. O programa faz tudo isso na retaguarda e cria os ficheiros necessários em pastas temporárias, longe da nossa vista.
O LyX é já um programa estável e maduro, mas continua a ser desenvolvido, embora algo lentamente. Actualmente, o programa inclui:
- Suporte para várias classes de documentos (artigos, livros, relatórios, cartas, diapositivos);
- Inclusão de notas de rodapé e de margem, de referências bibliográficas, de figuras, de tabelas e de referências cruzadas;
- Numeração de secções e formação automática do índice de conteúdos;
- Formação automática de bibliografias e de índices de figuras, de tabelas e de termos.
- Correcção ortográfica
- Editor de equações matemáticas