domingo, 18 de fevereiro de 2007

NA CAIXA DO CORREIO: O Filósofo da Bénard

O FILÓSOFO DA BÉNARD
As pessoas gostam muito de dizer que os portugueses são burros e que não têm nada entre as orelhas, mas eu regozijo-me quase todos os dias com pequenas revelações de que não é verdade que andem para aqui dez milhões de criaturas com o cérebro em coma. A desta semana, absolutamente deliciosa, foi-me entregue numa folha A4 por um empregado da Bénard, ali em pleno Chiado, numa dessas tardes em que parei lá por uns minutos para me refazer da chuva antes de seguir para casa. O que era aquilo? Muito simples. Há um jovem filósofo alemão, absolutamente brilhante e de seu nome Robert Kurtz, que vai escrevendo textos para tentar partilhá-los com o mundo. Esse filósofo alemão é amigo de um filósofo português. E este segundo rapaz, empenhado em não deixar apagar a chama, traduz cuidadosamente a prosa do colega para a nossa língua e distribui-a por vários locais – nomeadamente pela Bénard. O texto desta semana, intitulado Desarmamento moral: a cultura do escândalo como expressão da falta de perspectiva social, contém várias passagens notáveis, da quais transcrevo, por impossibilidade de monopolizar mais espaço, apenas isto: “A sociedade transformou-se num grande ninho de intriga global. Quando os conteudos se tornam indiferentes surge um capitalismo mental, com a sua espectacular economia da atenção”. Querem mais? Vão ver a exit-online.org. E, por favor, deixem de generalizar a acefalia crónica dos portugueses. Garanto-vos que o empregado que me passou o papel estava genuinamente entusiamado com o texto.