Chegou finalmente ao topo da minha pilha de leituras nocturnas o volume Contos Apátridas, com contribuições de cinco autores de língua espanhola em torno da ideia da pulverização da pátria, editado pela Asa já há mais de um ano. Todos os contos são muito bons, e a forma como a noção de pátria muda de sentido em cada um deles deixa-nos sempre surpreendidos. Mas, a mim, o que me seduziu acima de tudo foi uma visita especial presente em Antiga Morada, de Antonio Saraiva. É um poema tão simples quanto evocativo escrito há mais de mil anos, da autoria de um poeta taoista chinês chamado Li Po, É uma joia belíssima, que nos fere exactamente pela noção da intemporalidade dos fenómenos. Reza assim:
Aqui foi a antiga morada do rei Wu.
Livre cresce hoje a realva nas suas ruínas.
Mais ao longe, o imenso palácio dos T'sing, outrora tão sumptuoso e tão temido.
Tudo isso foi e já não é, tudo chega ao seu término.
Os acontecimentos e os homens viajam para a morte,
Assim como as águas do rio azul correm até se perderem no mar.
E agora, volvidos tantos séculos, algum de nós conseguiria alguma vez dizer isto melhor?