segunda-feira, 2 de outubro de 2006

NA CAIXA DO CORREIO: O OVO DE COLOMBO

Tenho um amigo que passou o último ano lectivo de licença sabática no Museu de História Natural em Paris. Voltou de lá impressionadíssimo com uma solução que os franceses adoptaram para pôr na ordem a circulação de automóveis particulares dentro das grandes cidades que é um verdadeiro ovo de Colombo. É um sistema que foi cuidadosamente negociado com os sindicatos, e que agora figura com todas as letras no contrato colectivo de trabalho: faz parte do ordenado de todos os trabalhadores receberem ao fim do mês, juntamente com o dinheiro, o passe social. Note-se, não é uma figura de estilo em que o preço do passe se acrescenta ao valor a receber, não – estamos mesmo a falar de um rectângulo de plástico com a vinheta para o mês seguinte que faz parte integrante do salário. Ninguém á obrigado a utilizá-lo, mas o efeito psicológico deste pagamento explica-se a si próprio. Claro que, depois de o terem na mão, muitos dos que se tinham habituado a fazer todas as deslocações em carro próprio já pensam duas vezes: então, se têm ali aquele acesso aos transportes públicos que não lhes custou um tostão e podem passar o mês a viajar à borla... Não é? Este meu amigo diz que, a partir do momento em que recebeu o seu primeiro ordenado parisiense, nunca mais pegou no carro – que, no entanto, tinha levado consigo desde Lisboa.
Bem podíamos começar a pensar em fazer o mesmo.