O último século da cultura ocidental foi profundamente marcado por um espírito triunfalista e quase hegemónico em relação à ciência, que começou a elevar-se desde a década de 70 do século XIX à categoria de grande salvador universal. Dentro deste espírito, em breve todas as doenças seriam curadas, existiriam cidades na Lua e em Marte, todos os recursos do fundo do mar estariam incorporados na nossa subsistência, as semanas de trabalho teriam só quatro dias porque os robôs fariam praticamente tudo por nós, teríamos automóveis voadores, criaríamos novas espécies animais e vegetais de alta produtividade e alto valor alimentar, e até faríamos chover onde quiséssemos. É só nos finais do século XX que este espírito começa a ser questionado, e consequentemente a potencialidade da ciência como resolução para todos os nossos problemas começa a aparecer como cada vez menos credível. No entanto, esta nova mudança de atitude ainda não transitou minimamente para o ensino científico, em qualquer nível de ensino: continuamos a ensinar aos nossos alunos uma ciência que funciona como uma flecha ascendente orientada no sentido do progresso, com a arrogância de quem já detém todas as respostas para todas as perguntas do passado. Nesta secção dos CONTEÚDOS, visaremos discutir a forma como a incorporação da história da ciência nos currículos científicos pode ajudar os alunos a olharem para o conhecimento científico moderno com mais modéstia, com plena consciência de que o que nos dizem hoje os livros de texto terá forçosamente que ser alterado daqui a cinco anos e será certamente obsoleto daqui a mais dois séculos, e pelo menos com o rudimento da noção de que o desenvolvimento científico se organiza obrigatoriamente dentro do espectro inesgotável da inquietação e curiosidade humanas, que transcende em muito a mera colecção progressiva de dados e gera regularmente mudanças de paradigma que englobam todo o tecido social e moral pelo qual nos regemos (TO BE CONTINUED!!!!)
Villemard
"A l'Ecole"
Visions de l'an 2000, 1910
Chromolithograph
BNF, Département des Estampes et de la Photographie