quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

NA CAIXA DO CORREIO: A Árvore de Fevereiro

Clarinha

Chegado de férias do Norte de Moçambique foi bom ler-te assim, mesmo que num tom meio melancólico. Os portugueses são tristonhos, dizes. Quem sabe eles não existem fora dessa luz saudosa que para eles inventámos ? Quem sabe não existem de todo ? Enfim, existes tu fazendo as tuas coisas. A minha tropa feminina envia-te montes de beijos. Eu também.
Agora, a árvore: o nome comum (aportuguesado) é canhoeiro e o nome em tsonga (línguas do Sul) é Kanhi, muitas vezes grafado kanhyi. O nome científico é Sclerocarrya bierra (já foi chamado de Sclerocarya caffra). Os sul-africanos chamam-lhe Marula tree e dos frutos preparam um licor chamado Amarula. É uma anarcardiacea - mesma família das mangueiras e dos cajueiros) e ocorre em Moçambique, Norte da África do Sul, Zimbabwe, Norte da Namíbia, Malawi e Sul da Zâmbia. Têm sexos separados, ocorrendo quase sempre.
Os povos Tsonga do Sul de Moçambique consideram a árvore sagrada (é interdito vender qualquer componente da árvore e não se abate mesmo na preparação dos terrenos agrícolas) e celebram a Festa dos Primeiros Frutos no início de Fevereiro de cada ano. Cada uma das famílias da vizinhança é rotativamente encarregada de preparar a festa e convidar os vizinhos.
Bebe-se uma bebida fermentada a partir do fruto (que parece um pêssego pequeno e que é muito perfumado). Bebe-se, canta-se e dança-se durante três dias. Estes dias correspondem a uma certa restauração do caos, dizem os antropólogos.
Os povos Venda (Norte da África do Sul e Sul do Zimbabwe) admnistram uma cinza feita da casca pilada para ter a certeza que o bébe vai nascer com o sexo que os pais deejam. Se querem ter uma menina deve a grávida tomar um pó feito da árvore fêmea. Tomará da árvore masculina se quiser ter um menino.
Todas as saudades e ainda mais beijos
Mia