terça-feira, 17 de outubro de 2006

LER: Repositório de História e Filosofia das Ciências no Instituto Rocha Cabral

A Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral colocou online o seu repositório de publicações.

De momento já se encontram disponíveis os textos integrais dos artigos da autoria dos membros da Secção publicados nos volumes 1 e 3 da série Opuscula officinara. O volume 2, por corresponder a uma única obra, não ficará, pelo menos por enquanto, disponível.

Somos adeptos de uma política de Acesso Livre à literatura científica, pelo que disponibilizaremos no nosso Repositório todas as publicações científicas da secção ou dos seus membros, desde que para tal não exista qualquer impedimento legal, resultante de compromissos assumidos com as respectivas editoras.

O endereço do repositório é: http://www.ircabral.org/repositorio/

Ele faz parte da reformulada página da secção em http://www.ircabral.org/shfc/

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

AGENDA: Saúde Ambiental e História

Environment Health & History
Conferência da Associação Europeia para a História da Medicina e da Saúde
Data: 12-15 de Setembro de 2007
Local: Brunei Gallery, Bloomsbury, Londres.
Organização: London School of Hygiene and Tropical Medicine e European Association for the History of Medicine and Health
Resumos: Até finais de Novembro de 2006
URL: http://www.lshtm.ac.uk/history/EAHMcallforpapers.html

domingo, 8 de outubro de 2006

AGENDA: EVOLUÇÃO E CRIACIONISMO

Recentemente, o Papa Bento XVI nomeou um grupo de missão para fazer o levantamento do que há de melhor e mais recente nos domínios da Evolução e do Criacionismo Científico, por forma a comparar os dados e tentar chegar a alguma plataforma de entendimento sobre como deve ser apresentada a história da vida na Terra, pelo menos ao mundo católico. Esta iniciativa inédita marca uma viragem de peso na tradição das relações ciência-religião neste domínio: tradicionalmente, os teólogos afastavam-se de todo e qualquer comentário sobre o Criacionismo Científico, sendo este implementado, defendido e desenvolvido estritamente por cientistas de tendência religiosa fundamentalista. Perante o peso desta iniciativa, que certamente irá fazer correr rios de tinta nos próximos tempos, torna-se urgente informar rigorosamente a população sobre o que propõem exactamente as teorias evolucionistas, e o que defendem, em contrapartida, os criacionistas. Neste sentido, o grupo de Biologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias está a preparar-se para começar a coligir um volume, com vista a publicação numa editora e on-line, que reuna os principais textos do Creacionismo Científico, devidamente comentados e contrapostos pelas ideias evolutivas adequadas. Quem estiver interessado em integrar este grupo de trabalho pode, desde já, deixar o seu nome e contacto em sandra.abrantes@ulusofona.pt, ou fazer a inscrição pelo telefone 21.7515573.

NA CAIXA DO CORREIO: UM POEMA TÃO SIMPLES

Chegou finalmente ao topo da minha pilha de leituras nocturnas o volume Contos Apátridas, com contribuições de cinco autores de língua espanhola em torno da ideia da pulverização da pátria, editado pela Asa já há mais de um ano. Todos os contos são muito bons, e a forma como a noção de pátria muda de sentido em cada um deles deixa-nos sempre surpreendidos. Mas, a mim, o que me seduziu acima de tudo foi uma visita especial presente em Antiga Morada, de Antonio Saraiva. É um poema tão simples quanto evocativo escrito há mais de mil anos, da autoria de um poeta taoista chinês chamado Li Po, É uma joia belíssima, que nos fere exactamente pela noção da intemporalidade dos fenómenos. Reza assim:

Aqui foi a antiga morada do rei Wu.
Livre cresce hoje a realva nas suas ruínas.
Mais ao longe, o imenso palácio dos T'sing, outrora tão sumptuoso e tão temido.
Tudo isso foi e já não é, tudo chega ao seu término.
Os acontecimentos e os homens viajam para a morte,
Assim como as águas do rio azul correm até se perderem no mar.

E agora, volvidos tantos séculos, algum de nós conseguiria alguma vez dizer isto melhor?

NA CAIXA DO CORREIO: SABEDORIA

Passei uma tarde inteira a catalogar os livros da biblioteca do nosso Centro. É uma experiência estranha, passar tantas horas as segurar volumes, a ler títulos e subtítulos, a folhear índices e prefácios, a ler notas de contracapa. Tanta sabedoria que está ali concentrada, quieta e calada, longe do mundo. Nós às vezes vamos buscar um dos livros, de que estamos a precisar ara o nosso trabalho, corremos-lhe as páginas com os olhos até encontrarmos a parte de que íamos à procura, estudamos cuidadosamente essa secção, retiramos dela o que precisávamos, e depois devolvêmo-lo à prateleira. É diferente quando encaramos os livros todos de uma vez, mais de um milhar deles, recheados de informações e paisagens e visões de outrém, de histórias longínquas e de contovérsias prementes, num jorro inquieto de estudos e pensamentos que nos dá vontade de mergulhar a fundo e só voltar à superfície muito depois. Fica-se irremediavelmente impressionado quando se mede o esforço de saber e entendimento que tem agitado o mundo desde que os humanos caminham sobre a sua superfície. Dá vontade de parar tudo para ficar ali a saber mais, cada vez mais. Não há nada mais empolgante do que a aventura do conhecimento.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

NA CAIXA DO CORREIO: O OVO DE COLOMBO

Tenho um amigo que passou o último ano lectivo de licença sabática no Museu de História Natural em Paris. Voltou de lá impressionadíssimo com uma solução que os franceses adoptaram para pôr na ordem a circulação de automóveis particulares dentro das grandes cidades que é um verdadeiro ovo de Colombo. É um sistema que foi cuidadosamente negociado com os sindicatos, e que agora figura com todas as letras no contrato colectivo de trabalho: faz parte do ordenado de todos os trabalhadores receberem ao fim do mês, juntamente com o dinheiro, o passe social. Note-se, não é uma figura de estilo em que o preço do passe se acrescenta ao valor a receber, não – estamos mesmo a falar de um rectângulo de plástico com a vinheta para o mês seguinte que faz parte integrante do salário. Ninguém á obrigado a utilizá-lo, mas o efeito psicológico deste pagamento explica-se a si próprio. Claro que, depois de o terem na mão, muitos dos que se tinham habituado a fazer todas as deslocações em carro próprio já pensam duas vezes: então, se têm ali aquele acesso aos transportes públicos que não lhes custou um tostão e podem passar o mês a viajar à borla... Não é? Este meu amigo diz que, a partir do momento em que recebeu o seu primeiro ordenado parisiense, nunca mais pegou no carro – que, no entanto, tinha levado consigo desde Lisboa.
Bem podíamos começar a pensar em fazer o mesmo.

NA CAIXA DO CORREIO: INCONVENIÊNCIAS

Se ainda não foram ver o tão falado documentário do Al Gore, Uma Verdade Inconveniente, façam o favor de ir. É importante. Não se trata de um panfleto qualquer: é o resultado do trabalho incansável e meticuloso de um homem que tomou para sua missão de vida a luta pelo futuro do planeta Terra, e nesse sentido é um aviso formidável que nos cai em cima como a bofetada de que precisávamos para acordar, ao mesmo tempo que nos oferece uma boa quantidade de sugestões sobre o que cada um de nós pode fazer para acudir desde já ao drama do aquecimento global. Tudo o que nos é dito a este respeito está baseado em informação científica séria e sólida. Al Gore digeriu-a e sintetizou-a muito bem, como o bom aluno que sempre foi, e sabe apresentá-la com brio, sobriedade e transparência. Lembrem-se que este trabalho foi feito maioritariamente para os americanos – e, destes, pelo menos metade (a metade que vota no senhor Bush) ainda acredita que o aquecimento global é uma mera teoria, e não um facto científico mais que comprovado e consensual. Bush, aliás, chama a Gore “um fanático” que “quer que vivamos rodeados de mochos e sem empregos”. É a cegueira desesperada de quem não quer que o futuro seja levado em linha de conta, para não ter que deixar de cantar laudas ao consumo imediato e desenfreado a todo o custo. Poderemos abrir os olhos aos cegos? Para já, podemos abrir os nossos. Uma Verdade Inconveniente dá-nos uma grande ajuda.