quarta-feira, 19 de julho de 2006

AGENDA: Homenagem ao Prof. Ruy Pinto no Instituto Rocha Cabral


A Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto de Investigação Científica de Bento da Rocha Cabral organiza uma sessão de homenagem ao Prof. Doutor Ruy Eugénio de Carvalho Pinto, Prof. Catedrático Jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, comemorando os seus dez anos como director do Instituto.
A sessão terá lugar na sala de conferências do Instituto, na Calçada Bento da Rocha Cabral, 14, no dia 24 de Julho de 2006 (segunda-feira), pelas 18,30 horas.
A sessão de homenagem, que contará com a presença do Magnífico Reitor da Universidade de Lisboa, Prof. Doutor António da Nóvoa, incluirá uma alocução sobre o homenageado proferida pelo Prof. Doutor Fernando Bragança Gil, Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e a apresentação do terceiro número da série Opuscula officinara, intitulado "Estudos sobre a Ciência em Homenagem a Ruy E. Pinto".

quinta-feira, 6 de julho de 2006

LER: O ideal de Ramón y Cajal

Na Imprensa Médica de 25 de Janeiro de 1940 (Ano VI, n.º 2)
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Karl Popper, um filósofo do século XIX, foi sintético e objectivo no punho. Escreveu o seguinte: «Pessoalmente julgo que existe pelo menos um problema… que interessa a todos os homens que pensam: o problema de compreender o mundo, nós mesmos e o nosso conhecimento enquanto parte do mundo». Na velha demanda da descoberta do mundo, o problema de que nos fala Popper esteve sempre presente. Basta para isso analisar com alguma atenção a estruturação do pensamento ocidental e a forma como essa mesma estruturação se fez de avanços e recuos, de saltos para a frente e para trás e de guerras contra a verdade do outro. O problema de que nos fala Popper será porventura o problema histórico da humanidade que faz a própria humanidade acontecer. A diversidade do mundo não é feita somente de diferentes estruturas anatómicas como resultado de uma acção selectiva por parte do meio ambiente. A diversidade do mundo é feita também de diferentes formas de ver e de pensar o mundo como por exemplo a assimetria cultural existente, embora em grande parte efabulada, entre o ocidente e o oriente. Por conseguinte, conhecer as diferentes formas de ver e de pensar o mundo dos diferentes tempos históricos é conhecer acima de tudo as profundezas e as naturezas dos homens daqueles tempos, as suas ambições e os seus medos, as suas crenças e as suas descrenças. Ficamos pois a saber mais sobre esses homens do que propriamente sobre o mundo que os rodeava. E por isso ficamos a saber mais sobre nós próprios. O senhor que se segue, Newton, escreve na sua Filosofia Experimental algo intimamente ligado a este enviesamento perceptivo: «Não sei o que posso parecer aos olhos do mundo; mas para mim próprio pareço ter sido apenas um rapazinho a brincar à beira do mar, divertindo-me com encontrar de vez em quando um calhau mais liso ou uma concha mais bonita que de ordinário, enquanto o grande oceano da verdade continua por descobrir à minha frente». De facto, o mundo pula e avança de cada vez que a ciência descobre mais um pouquinho deste mundo. Mas mais do que pular e avançar, o mundo vai-se descobrindo a si próprio. Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), um médico histologista espanhol que desenvolveu importantes estudos sobre o sistema nervoso central e, por isso, um cientista na sua forma mais pura, falou-nos do seu ideal (ver imagem em cima), que é, ao fim e ao cabo, o ideal de todos aqueles que percorrem o caminho menos percorrido.