terça-feira, 31 de janeiro de 2006

CONTEÚDOS: Academia Médica Portopolitana

Academia Médica Portopolitana

  • Um contributo para a Wikipédia, a enciclopédia livre.

Academia Médica Portopolitana ou Real Academia Médico-Portopolitana. Academia científica fundada em 1749 na cidade do Porto pelo cirurgião Manuel Gomes de Lima (1727-1806). Os primeiros Estatutos foram aprovados pelo irmão do Rei, o Arcebispo D. José de Bragança, protector da Academia. Além de Manuel Gomes de Lima, a Academia contou com a presença de João Mendes Sachetti Barbosa, dirigente do Círculo de Évora, o qual trouxe António Nunes Ribeiro Sanches e Jacob de Castro Sarmento. Em Lisboa, o lugar dirigente foi ocupado pelo médico stahliano José Rodrigues de Abreu.


História

O cirurgião Manuel Gomes de Lima fundou e foi o principal impulsionador, em meados do Século XVIII, de várias academias médico-cirúrgicas na cidade do Porto. Ao todo, num espaço de onze anos, fundou nada menos que quatro academias, mas estas podem ser reduzidas apenas a duas: uma academia cirúrgica e outra médica. A primeira, a Academia Cirúrgica Portuense, funcionou em dois períodos distintos, 1748-1749 e 1759-1764. A segunda, que incluía a Medicina, a Cirurgia e a Farmácia, foi criada em 1749, primeiro com o nome de Academia dos Escondidos e depois com o de Academia Médico-Portopolitana, funcionando até cerca de 1752. A primeira academia fundada no Porto foi a Real Academia Cirúrgico-Proto-Tipo-Lusitânica Portuense, também chamada Academia Cirúrgica Portuense. Os Estatutos foram aprovados a 5 de Setembro de 1748. Gomes de Lima, que já se afastara antes desta data, por incompatibilidade com outros académicos, promoveu de imediato a criação de uma nova academia com médicos, cirurgiões e boticários. Esta iniciou os seus trabalhos em Janeiro de 1749, com a denominação de Academia dos Escondidos da Cidade do Porto ou dos Imitadores da Natureza. Editou o único volume do Zodíaco Lusitano Délfico, correspondente ao mês de Janeiro de 1749, que pretendia ser o primeiro periódico científico em Portugal. Os académicos obtiveram a protecção do irmão do rei e filho natural de D. Pedro II, o Arcebispo e Senhor de Braga. Logo de seguida, a Academia dos Escondidos transformou-se na Academia Médico-Portopolitana. Os primeiros Estatutos foram aprovados em 14 de Abril de 1749. A academia tinha membros distribuídos pelo Porto, Braga, Lisboa, Évora, Brasil e Espanha. Em Janeiro de 1751, os Estatutos ainda foram reformados, mas conflitos internos, a ida de Gomes de Lima para a Universidade de Coimbra, a morte do Arcebispo e de vários membros levaram à sua desagregação. Sendo parte do movimento de renovação intelectual anterior à Reforma Pombalina (1772), a Academia Médico-Portopolitana tomou como bandeira a ciência experimental e as teorias médicas de Hermann Boerhaave contra Aristóteles e Galeno, ainda dominantes no ensino médico. Apesar de todo o seu potencial, os resultados obtidos foram muito reduzidos.


Bibliografia

  • Estatutos da Real Academia Medico-Portopolitana. s.l., 1749.
  • Zodiaco Lusitanico-Delphico. Anatomico, Botanico, Chirurgico, Chymico, Dendrologico, Ictyologico, Lithologico, Medico, Meteorologico, Optico, Ornithologico, Pharmaceutico e Zoologico, Janeiro de 1749. s.l., 1749.
  • Júlio de Lemos. O limianista Doutor Lima Bezerra. Esboço bio-bibliográfico. Coimbra: Tip. Coimbra Editora, 1948.
  • A. Silva Carvalho. O culto de S. Cosme e S. Damião em Portugal e no Brasil. História das sociedades médicas portuguesas. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1928.
  • A. A. Banha de Andrade. "Uma academia luso-espanhola, antes da expulsão dos jesuítas". Brotéria. 40(1945)619-636.
  • J. P. Sousa Dias. “Equívocos sobre Ciência Moderna nas Academias Médico-Cirúrgicas Portuenses”. Medicamento, História e Sociedade. NS1(1992)2-9.

CONTEÚDOS: Tomé Pires

Tomé Pires

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Tomé Pires (1465?-1540?). Destacado boticário português que viveu no Oriente no Século XVI. Primeiro embaixador português enviado à China e autor da Suma Oriental, a primeira descrição europeia da Malásia e a mais antiga e extensa descrição portuguesa do Oriente.


Biografia

Tomé Pires, boticário do príncipe, partiu para a Índia em 1511, quando já era homem de meia idade. No Oriente, esteve durante pouco tempo em Cananor como feitor das drogarias, encarregado da aquisição de drogas destinadas às naus da carreira da Índia, mas foi logo em 1512 enviado por Afonso de Albuquerque a Malaca. Aí esteve como escrivão da feitoria e como contador e vedor das drogarias até 1515. Em 1513 deslocou-se a Java, como feitor de uma frota de quatro navios que foram buscar especiarias. Foi durante ou logo a seguir à sua estadia em Malaca que escreveu a Suma Oriental que trata do Mar Roxo até aos Chins. Em 1515 regressou à Índia, aparentemente com o intuito de regressar a Portugal, mas o novo governador-geral da Índia, Lopo Soares de Albergaria escolheu-o para dirigir uma embaixada que o rei decidira enviar à China. As razões para a escolha de Tomé Pires são apontadas pelos cronistas. Castanheda diz que "o governador não quis senão mandar este Tomé Pires, que mandou com conselho dos fidalgos e capitães da Índia, e porque este Tomé Pires fora boticário do Príncipe Dom Afonso, e por que conheceria melhor que outro as drogas que havia na China". Segundo Barros, "o embaixador ... havia nome Tomé Pires, que Lopo Soares, na Índia, escolheu para isso. E posto que não era homem de tanta qualidade, por ser boticário e servir na Índia de escolher as drogas de botica que haviam de vir para este reino, para aquele negócio era o mais hábil e auto que podia ser; porque, além de ter pessoa e natural descrição com Letras, segundo sua faculdade, e largo de condição e aprazível em negociar, era mui curioso de inquirir e saber as coisas, e tinha um espírito vivo para tudo". Em 27 de Janeiro de 1516, Pires escreveu em Cochim uma importante carta a D. Manuel I onde descreveu de forma pioneira a origem geográfica e algumas características de grande número de drogas asiáticas. Partiu em 1516 para Cantão onde chegou, depois de vários contratempos, dezanove meses depois. Em Cantão, Pires ainda esperou mais quinze meses, antes de partir em 1520 para Beijing, onde a embaixada nunca chegou a ser recebida pelo imperador, regressando a Cantão em Setembro de 1521. Resultado da conjunção de vários factores, desde a natural desconfiança dos chineses, à falta de tacto de alguns portugueses e à intriga movida pelo deposto rei de Malaca, a embaixada caiu em desgraça, os seus membros foram presos e mortos e os portugueses perseguidos na China durante três décadas. Os testemunhos destes acontecimentos não coincidem no que respeita à sorte de Tomé Pires. Segundo uns terá falecido de doença em 1524, mas segundo outros terá vivido mais tempo, embora sem ter autorização para sair da China.


Bibliografia

  • Albuquerque, L. “Tomé Pires”, in Dictionary of Scientific Biography. 1974. Vol. 10, p. 616.
  • Cortesão, A. ``A propósito do ilustre boticário quinhentista Tomé Pires. Revista Portuguesa de Farmácia. 13,3(1963)298-307.
  • Cortesão, A. A Suma Oriental de Tomé Pires e o Livro de Francisco Rodrigues. Coimbra, 1978.
  • Cortesão, A. Primeira embaixada europeia à China. o boticário e embaixador Tomé Pires. Lisboa, 1945.
  • Dias, J. Lopes. Medicinas da 'Suma Oriental' de Tomé Pires. Porto, 1947. Sep. ``Jornal do Médico, vol. 9, n.º 208, pp. 76-83.
  • Dias, J. P. Sousa. A Farmácia em Portugal. Uma introdução à sua história. 1338-1938. Lisboa: ANF, 1994.
  • Loureiro, Rui M. O manuscrito de Lisboa da "Suma Oriental" de Tomé Pires (Contribuição para uma edição crítica). Macau: Instituto Português do Oriente, 1996.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

CONTEÚDOS: João Mendes Sachetti Barbosa (1714-1774)

João Mendes Sachetti Barbosa
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João Mendes Sachetti Barbosa (1714-1774). Médico portugês do Século XVIII, um dos exemplos mais representativos do Iluminismo médico residente em Portugal.

Biografia

Nasceu em Estremoz em 1714, sendo filho de João Mendes Sachetti, pedreiro de alvenaria e de Catarina Rodrigues. Apesar de ser de origem humilde, estudou Filosofia em Évora e Medicina em Coimbra, onde se distinguiu, ganhando a fama de ter sido o melhor estudante do seu curso. Exerceu a Medicina em Estremoz e Campo Maior até que se estabeleceu em Elvas depois de 1743. Nesta cidade, foi médico do Hospital Real, ocupação que exercera igualmente em Campo Maior. A exemplo do irmão, o Dr. António Mendes Sachetti, Tesoureiro-mor da Sé de Elvas e comissário da Inquisição de Évora, habilitou-se a Familiar do Santo Oficio, de que obteve carta em 1756. Pouco depois tornou-se médico do número da Casa Real e da Câmara do Infante D. Manuel, assim como cavaleiro fidalgo da mesma Casa, e recebeu o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo. Foi nomeado Físico-mor do Exército durante a guerra de 1762, mas logo no ano seguinte caiu em desgraça e teve baixa desse posto a 21 de Abril, depois de ter estado preso quatro meses e meio. Terá falecido em finais de 1773 ou em 1774. A Carta de Familiar terá sido o passaporte de Barbosa para altas funções, mas a sua reputação como homem de ciência é-lhe bastante anterior. Sachetti Barbosa nunca terá saído do país, mas as relações que estabeleceu com sociedades cientificas estrangeiras e com os médicos emigrados mais prestigiados do tempo, tornaram-no num dos exemplos mais marcantes do iluminismo médico residente em Portugal. Em 1747 era já membro da Real Academia Médica de Madrid e iniciou correspondência com Jacob de Castro Sarmento e António Nunes Ribeiro Sanches anteriormente a 1748 e 1750, respectivamente. No ano de 1755 iniciou uma colaboração nas Philosophical Transactions da Royal Society de Londres, de que era sócio. A sua correspondência com Sarmento só terminou com a morte deste em 1762, tendo procurado substituir a sua falta através de Emanuel Mendes da Costa, secretário da Royal Society, com o qual manteve contactos epistolares entre 1763 e 1765. Quanto a Ribeiro Sanches, as boas relações entre ambos mantiveram-se até 1772, quando algumas divergências quanto à reforma dos estudos médicos, lhes vieram pôr um ponto final. Quando, em 1749, Manuel Gomes de Lima fundou no Porto a Academia Médica Portopolitana, o nome de Barbosa surgiu à frente do Círculo Eborense. Entre os sócios da Academia, surgiram vários que terão aderido por via do próprio Sachetti, entre os quais Ribeiro Sanches, Castro Sarmento e vários médicos alentejanos. Segundo o testemunho de Fr. Manuel do Cenáculo, presidente da Junta de Providência corroborado por Ribeiro Sanches, Sachetti Barbosa colaborou muito activamente na reforma dos estudos médicos e terá sido mesmo o autor dos novos Estatutos da Faculdade de Medicina. Sachetti Barbosa mostrou-se interessado por algumas observações e experiências muito simples descritas no livro Considerações Médicas (1758), mas o seu contributo científico prático foi nulo, limitando-se à sua actividade clínica. Onde o seu contributo merece ser realçado foi como entusiasta e apologista da Filosofia Newtoniana e das teorias médicas de Hermann Boerhaave, servindo de alguma forma de intermediário entre vários homens de ciência emigrados e as autoridades portuguesas, nomeadamente no momento da reforma pombalina da Universidade de Coimbra. Nas Considerações Médicas ele refere existir "ultimamente a vantagem e o artifício do sistema natural do ilustre Boerhaave, sobre que devemos fundar e introduzir a verdadeira Medicina, estabelecido pelo método de filosofar do incomparável Newton, que consiste em acomodar a razão aos experimentos e descobrir as leis da Natureza, depois de um suficiente número de feitos constantes, crítica e logicamente observados". Ele foi o principal teórico da Academia Médica-Portopolitana, cabendo-lhe recitar a "Oração Académica Inaugural" (1749), com 29 reflexões sobre a divisão do trabalho e o método de descrever e indagar as matérias de estudo da Academia. Segundo Barbosa, aos académicos devia ser distribuído um tema de estudo, de acordo com regras minuciosas e todos deviam fazer "profissão da Filosofia Newtoniana, precedendo para isso, se puder ser, o estudo de Geometria, Aritmética, Álgebra, Fluxões, Trigonometria, Secções cónicas, etc.".

A obra

A principal obra de Barbosa, para além dos contributos publicados no âmbito da Academia Médica Portopolitana, foi o livro Considerações Médicas sobre o metodo de conhecer, curar e preservar as Epidemias, ou Febres Malignas Podres, Pestilenciaes, contagiozas (1758) onde, na forma de três cartas escritas do Alentejo a um amigo de Lisboa, tratou da origem, conhecimento, profilaxia e tratamento das epidemias e febres contagiosas, que o autor considerava ser um dos grandes perigos depois do Terramoto de 1755. Este livro levou Maximiano de Lemos a considerar o médico alentejano como “um dos mais ilustres práticos do seu tempo” e “um espírito bem educado e cheio de entusiasmo por tudo quanto representava verdadeiro progresso no domínio das ciências médicas’’. O livro de Barbosa, nomeadamente devido aos reparos feitos ao tratamento das febres normalmente seguido em Lisboa, foi objecto de uma resposta por parte do médico Duarte Rebelo Saldanha, no livro Ilustração Médica (1761-62).

Bibliografia

  • D. Barbosa Machado. Biblioteca Lusitana. Lisboa: Oficina Patriarcal de Francisco Luis Ameno, 1759. Vol. 4, pp. 185-86.
  • M. Lemos. “Amigos de Ribeiro Sanches”. Arquivo Histórico Português. 8(1910)288-295.
  • M. Lemos. História da Medicina em Portugal. 2.ª ed. Lisboa: Publ. Dom Quixote/Ordem dos Médicos, 1991. Vol. 2, p. 125.
  • A. Gonçalves Rodrigues. “A correspondência científica do Dr. Sachetti Barbosa com Emmanuel Mendes da Costa, Secretário da Sociedade Real de Londres”. Biblos. 14(1938)396-408.
  • J. P. Sousa Dias. A Água de Inglaterra no Portugal das Luzes. Lisboa: FFUL, 1986.
  • J. P. Sousa Dias, “Equívocos sobre Ciência Moderna nas Academias Médico-Cirúrgicas Portuenses”. Medicamento, História e Sociedade. NS 1(1992)2-9.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

LER: Projecto PRINCIPIA NATURALIS

Projecto PRINCIPIA NATURALIS

PRosopografia da INvestigação CIentífica em Portugal
(Ciências Biomédicas, 1880-1950)

O Projecto PRINCIPIA NATURALIS, desenvolvido no âmbito do Centro de Estudos de História das Ciências Naturais e da Saúde e da Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral, acaba de publicar na WWW o primeiro esboço da sua página:
  • PRINCIPIA NATURALIS. PRosopografia da INvestigação CIentífica em Portugal. Biomédicas, 1880-1950
  • Investigador responsável: José Pedro Sousa Dias.
Image principia-logo

O projecto Principia visa estudar como foi introduzida e se institucionalizou a investigação laboratorial nas ciências médicas e biológicas, em Portugal, no período entre 1880 e 1950. Pretende-se estudar como se criaram e desenvolveram os grupos de investigadores e as instituições e como se desenvolveram as estruturas sociais próprias de uma comunidade científica, através da aplicação de métodos de natureza prosopográfica, bibliométrica e de análise de redes. Pretende-se dar particular atenção à formação e desenvolvimento de redes de investigadores, à caracterização biográfica, social e técnico-científica dos seus membros e das relações que estabeleceram entre si e com as instituições a que se encontravam ligados. Desta forma, a abordagem prosopográfica resulta essencialmente num estudo quantitativo. Pretende-se igualmente estabelecer o perfil de publicação de cada um dos grupos, determinando a produtividade, identificando a natureza da colaboração, as revistas e os idiomas utilizados.

O Projecto visa estudar de forma colectiva o conjunto dos investigadores e outras categorias relacionadas, como as unidades de investigação e de ensino, as sociedades científicas e mesmo os eventos mais importantes, estudando as relações sociais que estes diferentes actores estabeleceram entre si. O critério seguido na definição dos elementos incluidos no estudo é o da participação activa no mundo académico e suas instituições, nomeadamente, a pertença à Sociedade Portuguesa de Biologia, a apresentação de comunicações nas suas sessões e em outras reuniões científicas, a publicação em revistas reconhecidas pelos restantes investigadores e a participação na vida científica dos institutos e laboratórios de investigação. A informação está a ser introduzida numa base de dados relacional, construída utilizando uma base de dados em PostgreSQL com o frontend Rekall.

A página inclui secções relativas a:

  • Descrição do projecto
  • Dicionário. Entradas do Dicionário de Investigadores e Instituições das Ciências Biomédicas.
  • Bibliografia. Textos produzidos no âmbito do projecto.
  • Iconografia. Banco de imagens relativas ao projecto.
  • Cronologia das Ciências Biomédicas em Portugal.
  • Contactos.
  • Notícias.
Parte do conteúdo é ainda apenas um protótipo e demonstração das futuras secções.

CONTEÚDOS: Jacob de Castro Sarmento (1691-1762)

Jacob de Castro Sarmento

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Jacob de Castro Sarmento. Gravura de R. Houston (? - 1775) segundo S. Pine (fl. 1768-1771). Ca. 1740-50
Jacob de Castro Sarmento. Gravura de R. Houston (? - 1775) segundo S. Pine (fl. 1768-1771). Ca. 1740-50

Jacob de Castro Sarmento (1691-1762). Médico português do Século XVIII. Foi o primeiro a introduzir em Portugal as teorias de Isaac Newton. Nasceu em Bragança em 1691, com o nome de Henrique de Castro. Era filho de Francisco de Castro Almeida, estanqueiro, e de Violante de Mesquita, ambos cristãos-novos. Morou em Mértola durante a infância. A juventude não terá sido fácil para Henrique de Castro, pois o pai e um meio-irmão foram apre­sentados e condenados na Inquisição de Évora, acusa­dos de judaísmo. O pai foi preso em 1708 e saiu em auto-de-fé a 20 de Julho de 1710. Apesar de terem sido confiscados os bens do pai, Henrique conseguiu formar-se em Artes no Colégio dos Jesuítas de Évora e matricular-se em Medicina na Universidade de Coimbra em 1711, onde concluiu o curso médico em 1717. Henrique de Castro exerceu a Medicina durante algum tempo em Beja e depois em Lisboa, possivelmente durante apenas alguns meses, antes de partir para Londres em 1721. A fuga para Inglaterra foi uma consequência da vaga de prisões de cristãos-novos do Alentejo e Algarve, que se seguiu às denúncias feitas pelo médico Francisco de Sá e Mesquita em Setembro e Outubro de 1720. Entre as várias dezenas de indivíduos presos em consequência dessas denúncias, encontrava-se grande número de médicos de Beja, Aljustrel, Alvito, Moura, Serpa e Vidigueira e muitas outras pessoas do convívio de Henrique de Castro, o que o terá levado a uma partida súbita. Uma vez em Inglaterra, Henrique de Castro e sua mulher aderiram publicamente à religião mosaica, tomaram nomes hebraicos e casaram-se de novo, na sinagoga. Cinco anos depois da sua partida foram perseguidos pela Inquisição os seus sobrinhos, filhos de João de Castro Almeida. O apoio da Congregação de Bevis Marks foi fundamental para o início da sua carreira em Inglaterra. Começou por exercer a medicina dentro da comunidade judaica até ser aceite, em 1725, no Royal College of Physicians, o que lhe permitiu exercer livremente a Medicina em Inglaterra. Depois de uma primeira rejeição, foi aceite em 1730 como Fellow da Royal Society e nove anos depois foi o primeiro judeu a obter o grau de doutor no Reino Unido, que lhe foi con­ce­di­do pela Universidade de Aberdeen. Estes passos foram acompa­nha­dos de uma intensa actividade profissional e científica. Durante esta mesma década, Castro Sarmento iniciou uma decidida viragem para a intervenção na realidade portuguesa, que se processou ao nível de contactos com as esferas dirigentes portuguesas e com colegas residentes no país, da edição de numerosas obras médicas escritas em português e também da actividade comer­cial, exportando a “Água de Inglaterra” e outros remédios se­cretos da sua autoria. Em 1730 iniciou correspondência com o Marquês de Alegrete, da qual nasceu a proposta que, através deste, foi feita à Academia Real de História, de enviar sementes do Chelsea Physic Garden para a criação de um jardim botânico na Universidade de Coimbra, reiterada no ano seguinte ao reitor, D. Francisco Carneiro de Figueiroa. Foi nesse mesmo ano que Sarmento terminou o poema Viriadas, iniciado por Isaac Sequeira de Samuda, então falecido, poema que dedicou a D. João V. Foi igualmente por esta mesma época que o Conde de Ericeira terá contactado Sarmento sobre a reforma dos estudos médicos, donde saiu uma proposta de traduzir para português as obras filosóficas de Francis Bacon. Nestes contactos, desempenhou certamente um papel importante o então ministro plenipotenciário português em Londres, Marco António de Azevedo Coutinho, a quem Castro Sarmento dedicou em 1735 a Materia medica e a quem deveu a sua nomeação em 1738 como médico da legação portuguesa. Esta posição terá colocado o médico em boas relações com o futuro primeiro ministro português Sebastião José de Carvalho e Melo, que substituiu Coutinho em 1739. Os contactos de Sarmento nas esferas dirigentes portuguesas ver-se-iam complementados nos meios médicos, com o estabelecimento de assíduos contactos epistolares com João Mendes Sachetti Barbosa e com a sua entrada, juntamente com este último, na Academia Médica-portopolitana, fundada no Porto em 1749. Mesmo em Inglaterra, a sua actividade dirigiu-se particularmente para os judeus portugueses. Jun­ta­mente com outro membro destacado da comunidade, tomou a ini­ciativa de criar em 1748 o Bet Holim, o hospital para os doentes necessitados da Congregação de Bevis Marks, onde co­laborou como médico até 1750. Nos últimos anos de vida, Sar­mento afastou-se da comunidade judaica. Em 1756 morreu a sua primeira mulher e Sarmento casou-se pouco depois com a amante cristã de nome Elizabeth, de quem tinha um filho há vários anos. Os filhos da última mulher, Henry e Charles, foram ambos baptisados. Sarmento declarou o seu afastamento da Congregação de Bevis Marks em Outubro de 1758, vindo a falecer em 1762.

A obra

Apesar de emigrado em Inglaterra, Castro Sarmento manteve sempre fortes laços com Portugal, principalmente desde cerca de 1730. Ele foi sem dúvida o mais lúcido autor iatromecânico português. A perspectiva Iatromecânica foi defendida principalmente na Matéria médica. Físico-histórico-mecânica (1735). Partidário de uma forma tardia de iatrome­canicismo, influenciado por Hermann Boerhaave, Sarmento veio trazer para a literatura médica portuguesa uma nova abordagem, influenciada pela física newtoniana e por todo o ambiente intelectual que encontrou ao chegar a Inglaterra em 1721. Quando Sarmento chegou à pá­tria de Bacon, Harvey, Boyle e Newton, este último estava ainda vivo e no auge da sua reputação. A sua influência fazia-se já sentir profundamente em todas as áreas do saber científico e técnico, incluindo a Medicina. Como Sarmento diria anos depois: “o profundo respeito e veneração com que os ingleses pronunciam o nome do cavalheiro Isaac Newton iguala, se não excede, toda aquela estima e culto que jamais se deu aos mais célebres legisladores da Antiguidade”. Em 1737, escreveu a Teórica verdadeira das marés, conforme à filosofia do incomparável cavalheiro Isaac New­ton, o primeiro livro em português onde se introdu­zem as teorias de Newton. A influência mais directa para a redacção deste livro parece ter sido um curso de filosofia experimental e mecânica dado em Bath por John Theophilus Desaguliers (1683-1744), apresentado como o “meu bom amigo e sócio [da Royal Society]”. Sarmento decidira escrever este comentário, “para que chegasse a todos uma ideia deste Filósofo Ilustre, pois pelo dedo se conhece o gigante”. No prólogo, trata da importância das forças atractivas do sol e da lua em vários casos pato­lógicos, afirmando que o conhecimento dessas forças era in­dispensável ao médico para o tratamento de doenças afectadas pelas fases da lua. A abordagem de Sarmento, como é natural numa obra de divulgação, tende a ser não matemática mas, atendendo à sua própria preparação básica, o nível de exposição de conceitos geométricos excede o que seria de es­perar. Logo após a sua chegada a Londres, Castro Sarmento publi­cou A dissertation on the method of inoculating the Smallpox (1721), onde fazia uma revisão do método de inocu­lação da varíola, que estava então a ser introduzido em In­glaterra. Castro Sarmento também foi o iniciador de uma viragem na literatura portuguesa sobre águas minerais. Na Matéria médica (1735) ele tratou detalhadamente do estudo químico das águas doces e minerais, sendo o primeiro autor português que se encontra a par dos mais recentes autores sobre esta matéria, como Robert Boyle, Martin Lister, Friedrich Hoffmann, Thomas Short e Peter Shaw, com quem trabalhou. Ele descreveu o modo de utilizar vários reagentes e instrumentos para o exame das águas e descreveu vários tipos de águas minerais, referindo as suas propriedades terapêuticas e várias técnicas utilizadas na sua análise. Defendendo a necessidade de exame químico próprio, Sarmento procedeu em Junho de 1743 e Fevereiro de 1744 às primeiras análises químicas qualitativas das águas das Caldas da Rainha, as mais importantes termas portuguesas da época. Os resultados foram descritos no Apêndice ao que se acha escrito na Matéria Médica (...) sobre a natureza, contentos, efeitos, e uso práctico, em forma de bebida, e banhos, das Águas das Caldas da Rainha (1753). A obra médica mais importante de Castro Sarmento foi a Matéria médica. Físico-histórico-mecânica. Em 1735 fez im­primir a parte I, tratando apenas dos medicamentos de origem mineral e só vinte e três anos depois editou a parte II, com os medicamentos de origem vegetal e animal, juntamente com a segunda edição da parte I. Merece também desta­que a Pharmacopoeia contracta in usum nosocomii ad pauperes e gente Lusitanica curando nuper instituti (1749), composta juntamente com Phelipe de la Cour para o Bet Holim. Este for­mulário, simultaneamente o primeiro elaborado para um hospital de portugueses e para um hospital de Londres, in­fluenciou a farmácia nos Estados Unidos da América, através da chamada Lititz pharmacopoeia, de 1778. As restan­tes obras de Castro Sarmento estão relacionadas com o seu interesse pelas operações de Cirurgia e pelos remédios secre­tos.


Bibliografia

  • Lemos, M. “Jacob de Castro Sarmento”, Ilustração Transmontana. 3(1910)114-125.
  • Carvalho, J. “Jacob de Castro Sarmento et l'introduction des conceptions de Newton en Portugal”, in Congrès Inter­national d'Histoire des Sciences (III). Lisboa, 1936. pp. 95-98.
  • Esaguy, A. “Jacob ou Henrique de Castro Sarmento”, in Congresso do Mundo Português. Lisboa, 1940. Vol. 13, pp. 177-210.
  • Esaguy, A. História da Medicina. Jacob de Castro Sarmento. Notas relativas à sua vida e à sua obra. Lisboa: Ed. Ática, 1946.
  • Barnett, R. “Dr Jacob de Castro Sarmento and sephardim in medical practice in 18th-Century London”, Trans. Jewish Hist. Soc. Engl.. 27(1982)84-114.
  • Dias, J. P. Sousa. A Água de Inglaterra no Portugal das Luzes. Lisboa: FFUL, 1986.
  • Goldish, Matt. “Newtonian, ’Converso’, and Deist: the lives of Jacob (Henrique) de Castro Sarmento”. Science in context. 10,4(1997)651–675.
  • Dias, J. P. Sousa. "Jacob de Castro Sarmento e a conversão à ciência moderna". in C. Pinto-Correia. Primeiro Encontro de História das Ciências Naturais e da Saúde. Convento da Arrábida. 15 a 17 de Julho de 2004. Lisboa: Shaker Verlag/Instituto Rocha Cabral, 2005. pp. 55-80.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

LER: L. Boltzmann. Escritos populares

Boltzmann, Ludwig. Escritos populares. Org. e trad. de António A. P. Videira. São Leopoldo: Editora Unisinos.

Ludwig Boltzmann nasceu em 1844, foi um físico muito considerado, e abandonou a vida em 1906. No ano anterior tinha publicado uma colecção de escritos que designou por “escritos populares”. A obra tem um século, mas mantém interesse de induzir a reflexão. Acresce que se trata dum físico que conheceu um conjunto de problemas da ciência, que nos inícios do séc XX viriam a ser marginalizados: talvez por terem surgido outros interesses, mas não por terem sido resolvidos. (Eis um exemplo simples. A Mecânica ensina-nos como se move o corpo livre – trata-se da lei de inércia ou primeira lei de Newton. Ao longo do séc. XX vários físicos fizeram notar, que não se pode testar a lei. Isto significa, que por experiência não sabemos, se o princípio é correcto. A problemática tinha surgido por 1870; em 1902 é feito um rol com dezenas de títulos sobre o assunto; em 1905 Einstein está preocupado com a inércia, no artigo da sua famosa equação; em 1915 a massa inerte é questão; nos anos 60, 70 ... e em 2005 ainda decorrem trabalhos experimentais sobre a dita massa inerte.)
Em 1903, lê-se no prefácio, Boltzmann tornou-se professor de Filosofia. Assim, na Universidade de Viena, era professor de física – Ehrenfest fez com ele o doutoramento em 1904 – e professor de Filosofia da Natureza. Compreende-se que um jovem de formação técnica e interesses conceptuais, como Ludwig Wittgenstein, tivesse planeado ir estudar com Boltzmann. (Viena viria a deixar o seu nome ligado à História da Filosofia).
A selecção de textos, tradução e introdução da edição em português é de António Videira, professor adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O autor estudou filosofia e física no Rio de Janeiro, realizou estudos pós-graduados em Heidelberg, na Alemanha, e doutorou-se em Epistemologia e História das Ciências pela Universidade de Paris VII, com Michel Paty. Tem vários estudos sobre Boltzmann, um dos quais publicado na Revista Portuguesa de Filosofia, (2005, pp. 225-245). Traduziu do original alemão e cotejou com a tradução inglesa e espanhola (dos editores Brian McGuiness, 1977, e Francisco Ordõnez-Rodriguez, 1986).

Editora: Unisinos

domingo, 15 de janeiro de 2006

AGENDA: Kuhn e a Sociologia do Conhecimento Científico


Kuhn and the Sociology of Scientific Knowledge

A importância e actualidade do pensamento de Thomas Kuhn para a Sociologia do Conhecimento Científico é o tema genérico de um conjunto de seminários e de uma Conferência que terão lugar no Departamento de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Cambridge, Reino Unido, de Janeiro a Março deste ano.

Os seminários serão livres e terão lugar às quinta-feiras, das 12,00 às 13,30, em 19 Jan., 2 e 16 Fev., 2 e 9 Março.

Página dos seminários: STS Workshop

Conferência: Kuhn and the Sociology of Scientific Knowledge

Data: 20-21 de Março de 2006

Local: Universidade de Cambridge, RU

Página da conferência: Kuhn and the Sociology of Scientific Knowledge

sábado, 14 de janeiro de 2006

AGENDA: Conferência sobre "Cientistas e comprometimento social"

A Sociedade Britânica para a História das Ciências (BSHS) está a organizar uma conferência para comemorar os 75 anos do segundo Congresso Internacional de História das Ciências, que teve lugar em Londres em 1931. O segundo congresso foi um momento marcante na história desta disciplina, devido ao impacto que teve a presença de uma delegação soviética dirigida por Nikolai Bukharine, a defender a necessidade de introdução do materialismo dialético no pensamento científico e da aplicação do materialismo histórico à historiografia da ciências. As posições defendidas por N. Bukharine, Boris Hessen, B. Zavadovsky, N. I. Vavilov e outros, condensadas na obra Science at the Crossroads, conduziram ao desenvolvimento de novas perspectivas no âmbito da História das Ciências, nomeadamente da História Social das Ciências.

A conferência rerá lugar no Science Museum, precisamente onde se realizou o segundo Congresso Internacional. O tema incide sobre o comprometimento político, filosófico e religioso de homens de ciência (num sentido vasto), sem limitação de períodos históricos.

Data: 15–17 de Setembro de 2006

Local: Science Museum, Londres, RU.

Data limite para resumos: 15 de Fevereiro de 2006

Página na BSHS:
Scientists and Social Commitment