quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

AGENDA: I Curso Anual da Escola de Mar

Vai realizar-se entre 6 e 8 de Janeiro de 2007 o I Curso Anual da Escola de Mar. Os objectivos centram-se na transmissão de conhecimentos sobre biologia e conservação de animais marinhos e dos seus ecossistemas naturais. Será dada especial revelância aos mamíferos marinhos, aos tubarões e às tartarugas marinhas. Este curso é vocacionado para estudantes universitários, biólogos, investigadores e público em geral interessado na temática.

Programa

Dia 6 - A Teoria por trás da Biologia
» História do comportamento animal aplicado aos mamíferos marinhos
» O comportamento das grandes baleias
» Estudos de genética aplicados às baleias corcunda do Golfo da Guiné
» Estudos de genética aplicados aos golfinhos
» By-catches de golfinhos nas pescarias portuguesas
» Pescas em Portugal: Estudos para o conhecimento dos stocks

Dia 7 - Pensar Global Agir Local
» Educação ambiental e conservação de tartarugas marinhas
» Extinções I: Manatins
» Extinções II: O tubarão branco
» Caça à baleia nas ilhas de Flores, Santa Maria, S. Tomé e Príncipe
» Medidas de conservação de espécies e habitats em perigo

Dia 8 - Saída de Mar - Parque Marinho Prof. Luiz Saldanha

Para mais informações e inscrições: 218 486 742 ~ 966 552 928 escolademar@gmail.com

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

ENTREVISTA: JOSÉ ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA, REITOR DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA
Como quem sabe o que diz

(e isso é raro)

Se por acaso perguntassem ao Reitor da Universidade de Lisboa o que é que mais quer para o Natal, ele provavelmente responderia que queria um ministro do Ensino Superior capaz de ouvir quem sabe o que é que está a dizer sem puxar logo da pistola. António Sampaio da Nóvoa, 51 anos, 1 filho, doutorado em História pela Sorbonne, especializado em História da Educação em Genebra, Professor Catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências Sociais até há pouco tempo a trabalhar da Columbia University em Nova York, foi o homem que se tornou subitamente conhecido de todos os portugueses ao destacar-se nos Prós e Contras pela oposição firme e bem fundamentada que manteve a José Mariano Gago durante o debate sobre o presente e o futuro das Universidades portuguesas, numa altura em que todos os participantes pareciam prestes a perder a cabeça e desatar a atirar projécteis perigosos uns aos outros. No calor de uma grande discussão, há muitas questões fundamentais e sérias que se perdem para quem não está completamente dentro do assunto. Impressionada pela sobriedade e rigor deste cavalheiro tranquilo, tanto quanto pelo drama de desamorodamento sem solução à vista que as nossas Universidades atravessam neste momento, pareceu-me oportuno pedir-lhe que se explicasse melhor para o leitor comum, que nem sequer tem a obrigação de perceber a graça ou a perversão dos golpes baixos disparados nas grandes discussões públicas. Tentei fazer o mesmo com o Ministro, mas ele nunca me respondeu. Pelo menos para perceber este lado da história, vale a pena ler o que Nóvoa me disse. O descalabro complexo que ele está a ter que gerir afecta-nos a todos como país e sociedade, e vai afectar-nos cada vez mais no futuro.

No tempo de José Barata Moura, o gabinete do Reitor, no edifício clássico da Reitoria ali a meio do Campo Grande, era uma espécie de caverna de Ali-Babá toda empilhada de livros e mergulhada na penumbra. Ao suceder-lhe no cargo, António Nóvoa mandou levantar finalmente as persianas, abrir os vidros, deixar entrar ar, e limpar bem as paredes infiltradas do fumo de oito anos de cachimbadas. Agora está tudo luminoso, arejado, até mesmo arrumado, o que não é tão frequente como isso nos sítios onde trabalha um homem. Ao contrário do seu antecessor, António Nóvoa é magro, de barba bem aparada ainda escura a contrastar com o cabelo grisalho cortado curto. Quando se entusiasma, torna-se invulgarmente coloquial para a ideia feita que temos de um Reitor. Nunca hesitou a responder às minhas perguntas, e nunca me pediu para rever a entrevista depois de escrita. Temos homem.
O Ministério tirou-me 15% do meu orçamento, diz ele. Mas, se mesmo assim eu não pagar a toda a gente na totalidade, sou preso porque estou a infringir a lei. É absurdo.

Não pode reduzir os seus funcionários, para equilibrar a balança? Não, na função pública não pode ser o Reitor a tomar essas medidas. Portanto nós hoje, em Portugal, temos uma lei que nos obriga a pagar catorze meses a todos os seus funcionários, e a manter toda uma série de compromissos que já estavam assumidos. Mas, de repente, o Ministério vem dizer-nos que vamos receber menos 15% da verba que tínhamos para isto, sem mudar o enquadramento legal ao mesmo tempo. Ficamos pendurados. Se me dissessem que íamos fazer uma grande reforma para podemos manter os encargos suportáveis, como acontece nos Estados Unidos, eu já não teria nada contra os cortes do Governo. O que não podem é dizer-me que eu vou receber menos dinheiro mas ser obrigado a pagar os mesmos salários. Isto torna a equação irresolúvel.

Então o que é o que o Ministro devia ter feito? Basicamente, o mesmo que a Ministra da Educação. Ela fechou escolas, reduziu a rede, e adequou os problemas da carreira docente. A combinação destas políticas vai dar poupanças substanciais. O Ministério da Ciência não fez políticas novas, não mudou nada, mas agora diz que temos que gastar menos.

Ele diz que isto já foi feito assim noutros países, pedindo-se às pessoas que vão buscar complementos do salário mais baixo a bolsas e projectos. E que isso é uma forma de promover a qualidade dos corpos docentes.

Estes sistemas não podem transferir-se de forma imediata de uns países para os outros de forma imediata. Eu não discordo do princípio de que deve haver uma base salarial para todos e que os complementos sejam feitos através de projectos e de que tem mais capacidade de captar bolsas. No Brasil, por exemplo, uma parte de fazer o complemento salarial é exactamente a partir do número de bolsas que cada equipa tem. Desde que o salário de base seja minimamente compatível com a função de professor universitário, não tenho nada contra.

Então o que é que o Ministro diz é que é, na sua opinião, tão demagógico? O que ele diz para o grande público ficar satisfeito é profundamente demagógico! Está a colocar as instituições entre a espada e a parede, e ao mesmo tempo a dizer que o problema não é dele, é das universidades. Isto é descartar para as instituições um problea que elas não têm capacidade para resolver, de uma forma que vai torná-las ingovernáveis. E ainda nos põe uma placa ao pescoço a dizer que somos, apenas, “corporativos!”.

Mas na argumentação do Ministro...
Este Ministro não argumenta. Nem sequer explica como é que acha que devemos fazer ou podemos ser. Desvia o assunto. Só diz que encomendou dois relatórios internacionais e que, quando chegar o resultado, então vai fazer qualquer coisa. Não consegue pensar sozinho?

No entanto, o Professor dá-lhe razão nalgumas coisas. Ó Clara, repare bem que, do ponto de vista das ideias, nem sequer há assim discordâncias claras. Até há uma base de acordo grande. Mas há, do lado do Ministério, e isso há mesmo e é mesmo grave, uma total falta de coragem política para alterar aquilo que precisa de ser alterado.

Então dê-me exemplos. Com muito gosto. Primeiro: é preciso fechar muitas instituições de Ensino Superior, porque a rede nacional é absurda. Segundo: é preciso mudar o modelo de gestão das universidades, porque este modelo é obsoleto e já não serve. Terceiro: é preciso mudar o estatuto da carreira docente, que também é obsoleto, e, assim como está, premeia medíocres, castiga quem tem progressos mais livres, em várias áreas, fora de Portugal, e só apoia aquilo a que eu chamo as carreiras do silêncio. Ou seja, é muito bom para quem não tem visibilidade, não fala, não aparece, mas porta-se bem e vai sendo promovido. E estas três reformas, que iam mudar tudo, o Ministro não as fez porque não tem coragem. Eu não posso mudar as leis da República, embora gostasse muito. Ele pode. Mas não age onde tem a obrigação de agir. Se agisse, então já era legítimo que andasse para aí a dizer que é preciso mudar as universidades.

Dito assim, parece que quem quer mesmo mudar a Universidade não é o ministro, mas sim pessoas como o Professor. Eu não sei o que é que o Ministro quer. Mas sei que a Universidade portuguesa não merece ser defendida pelo seu imobilismo. Aquele “endogamismo” de que somos tantas vezes acusados é-nos imposta pela própria lei. Eu luto pela reforma da Universidade, e não pela perpetuação do estado de coisas. Retirar-nos qualquer possibilidade de reforma e depois exigir-nos a reforma é impossível!

Mas a imagem que passa cá para fora é a de que são vocês que não querem mudar nada... Claro! É muito fácil passar esse tipo de mensagem, não é? Malandros, vão trabalhar, não querem fazer nada, e por aí adiante. É um discurso completamente estúpido, mas claro que conquista muitas simpatias populares. Olhe, eu por mim, se a iniciativa partisse do Ministro, não levantava um dedo para pagar o 13º mês aos meus funcionários e docentes. Se estamos a viver acima das nosss posses, então com certeza. Mas tem que ser ele a fazer isso. Não posso ser eu. Agora, ele não o faz. Não tem essa coragem. Em consequência, por falta de verba, obriga-nos a fechar laboratórios e bibliotecas, a viver com edifícios completamente degradados, e ainda a rescindir o contrato com algumas das pessoas mais interessantes que cá temos, como os jovens que ainda não têm vínculo. Não precisa que eu lhe diga que isto é uma verdadeira tragédia, pois não? Estamos a ser reduzidos à impotência. Na retórica do Ministro, claro, são tudo coisas que resultam da nossa incompetência enquanto gestores...

Há quem diga que tudo isto é uma manobra liberada do Governo para acabar por privatizar a Universidade pública sem dar mau aspecto.

Bom, hoje em dia há duas tendências internacionais muito claras. Uma delas, de facto, é privatizar as Universidades, porque elas vão ser um dos grandes mercados do século XXI. Para isso, por as Universidades em estado de letargia para depois lhes passar uma certidão de óbito pode ser uma agenda política. Tem acontecido em vários países. Por as universidades em estado de ingovernabilidade para depois se poder dizer que elas são ingovernáveis é exactamente a agenda da OCDE. Mas eu creio que não deve ser a do actual governo. Há outra grande tendência. O Ensino Superior massificou-se. Essa massificação acarreta uma sensível descida de nível. Isto dificulta a promoção da excelência em áreas de ponta pelas instituições. Portanto, então é melhor transformar as Universidades numa espécie de liceus um bocadinho mais avançados e especializados, e enviar para outras estruturas tudo o que sejam as verbas mais importantes para Ciência e Tecnologia. Talvez a agenda deste governo passe mais por aqui, e isso explicaria por que é que não aparecem as tais políticas destinadas a diminuir a rede de Universidades. Se é só para criar liceus, os grandes polos de excelência deslocam-se noutros sentidos, criam-se novas redes científicas, e todos os polos “universitários” podem ficar onde estavam.

E isso, para si, é uma boa política?
Para mim? Não! Eu acho isto um erro histŕico. Seira a degradação total da nossa ideia de universidade como centro de cultura e centro de produção de conhecimento. Não temos alternativa para o desenvolvimento da cultura e do conhecimento, e acabaríamos por ficar sem eles. E, sem eles, estamos condenados a ser estupidamente pobres. E o Governo sabe disso. Repare bem nesta ironia do destino: sempre que querem estabelecer grandes parcerias internacionais, vão buscar as grandes universidades americanas, como o MIT, a Carneggie Melon, Harvard, Austin, ou Berkeley. Ora, estas são exactamente as universidades do mundo onde a junção entre o ensino e a ciência se faz de forma mais clara, e de mais qualidade. Exactamente porque é lá que está o conecimento, é lá que está o ensino, e é lá que está a ciência.


Então por que é que o Professor tem deixado claro, por mais que uma vez, a sua reacção negativa em relação aos acordos com o MIT, que foram os primeiros dessa série?


Porque estamos a jogar com dois pesos e duas medidas, e isso nunca é bom para ninguém. Os contribuintes estão a pagar milhões de Euros nessas parcerias, que, aqui, são sobretudo políticas de exibição. Na Ciência internacional, tudo é feito de forma competitiva. Não há verbas dadas à partida para nenhum grupo. Os governos não inteferem nestas coisas. Antes de Portugal, todos os acordos internacionais que o MIT fez nunca foram com governos. É humilhante. Tratam-nos como se fôssemos um país do Terceiro Mundo, e nós comportamo-nos como tal. Depois do acordo entre o Governo e o MIT fez-se então um segundo acordo, agora entre o Governo e as Universidades. No topo está uma direcção, chamada Program Comite Governing, constituída por três pessoas de cada lado, e o lado português não dá para acreditar. São os três da mesma Universidade, dentro da Universidade são do mesmo Instituto, e dentro do Institudo são todos do mesmo grupo. E, por acaso, o José Mariano Gago e o Secretário de Estado são dessa mesma Universidade, desse mesmo Instituto, e desse mesmo grupo! Não acha que já é um excesso de coincidências? O Ministto justifica esta situação com o seu habitual “ a escolha por excelência”, mas no português corrente isto costuma ser considerado compadrio. Digo-lhe mais: o MIT nunca tnha recebido dinheiro directamente de um Governo estrangeiro, e este acordo foi discutidíssimo lá dentro. Só que uma oferta de 32 mlhoes de Euros não é propriamente possível de ignorar em favor da lisura moral e ética. E eles não têm que fazer nada! Os seus comunicados referem sempre “um acordo estremamente proveitoso para o MIT”, e eles sabem do que estão a falar.

Ainda por cima, o que verdadeiramente acabou por resultar desses acordos foi a formação no esrangeiro, no topo da gama, de gente nova que depois não ter lugares para se inserir em Portugal. Exactamente! E o próprio estatuto da carreira docente torna a inserção destas pessoas na Universidade portuguesa a bem dizer impossível. Está na lei que só se pode concorrer para Professor Auxiliar ao fim de cinco anos de prática. Não está na lei que esses cinco anos tenham que ser cumpridos em Portugal, mas aqui, em todo o país, a tradição é mesmo essa. Então para onde é que vão os jovens muito bem preparadps que acabaram de chegar do MIT a rebentar de qualificação, genica, e grandes ideias? Apanham logo com o famoso balde portugues de água gelada?

E calculo que aconteça o mesmo com as nova bolsas de Pós-Graduação ... Claro. Pela primeira vez o Ministro fez uma coisa muito boa, que eéfinanciar os anos reamente produtivos, quando os nossos mochinhos já voam por conta própria e estão tanto extremamente informados como dispostos a dormir no laboratório se for preciso. Portugal tem já hoje, e vai ter mais no futuro, uma carteira brilhante de gente desta, mas que posições é que tem para lhes dar? Estes acordos com as universidades americanas são para criar Mestres e Doutores , mas isso tinha que ser acompanhado por programas audaciosos de reforma das Universidades, senão eles não arranjam lá emprego, e perde-se toda uma nata de investigadores de alto nível. E estes são os únicos sítios onde, nos próximos anos, faz sentido empregar integrar jovens altamente qualificados. O resto são coisas precárias, a curto prazo, que vão só adiando o problema. Uma das razões porque eu me opus a este programa é porque ele, de facto, não nos resolve problemas. Na melhor das hipóteses, só os adia.

Como Reitor, o que é que gostaria muito de fazer que acha que não vai conseguir? Da minha experiência como Reitor, o que custa mais é a impossibildade prática que eu tenho de recrutar gente nova de qualidade. Estamos a perder uma geração que tínhamos a obrigação moral de não deixar perdida. Os que têm hoje 25 anos já vão apanhar uma fase de reforma, mas para os que estão agora sem saída uma oportunidade que aparece daqui a cinco ou dez anos pode já vir tarde. O nosso primeiro problema é criar emprego científico na Universidade, e já.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

EFEMÉRIDES: SIDÓNIO DE FREITAS BRANCO PAES

Foi vítima de um cancro no fígado aos 76 anos, mas esteve até duas horas antes de morrer a ditar tranquilamente à sua mulher, Lurdinhas Sassetti Paes, o último ensaio que escrevia para a revista Brotéria. O corpo de Sidónio de Freitas Branco Paes desceu à sepultura dia 4 de Dezembro de 2006, enquanto que a alma, para os crentes como ele, de certeza que subiu aos Céus. Com a morte deste homem incomparável, perdido melómano, espantoso sábio e rigoroso esteta, Portugal perdeu um dos seus cérebros mais brilhantes e uma das suas mentes mais enciclopédicas. Dizia Sidónio em várias ocasiões, com o seu pensamento sempre inquieto e atento, que faltava hoje ao mundo um visionário do Bem, como em tempos os tivémos em Jesus, ou em Ghandi. Não era qualquer caminho que poderia libertar-nos do esclavagismo materialista em que vivemos: esse caminho, para de facto nos libertar, teria que apontar no sentido de conceitos todos eles riscados do dicionário moderno, como a justiça, a fraternidade, ou a compaixão. Foi na procura desse caminho que Sidónio Pais viveu e morreu, entre livros, correspondências, conversas aturadas e actos persistentes de cidadania. Além, mais tardiamente, do encorajamento e das aulas de História da Música que ministrou durante anos, gratuitamente, em sua casa, a vários pupilos de idades entre os 7 e os 62 anos, entre eles um dos seus oito filhos, Bernardo Sassetti. Há menos de um mês, recomeçara a ler Cesário Verde, descobrira-lhe novos engenhos e colorações, começara a escrever um ensaio e citava sonetos de cor. É este entusiasmo perante busca da perfeição que nos fica como sua herança, e imperdoável seria deixá-lo alguma vez arrefecer.

NA CAIXA DO CORREIO: O BARÃO VOADOR

O barão Karl Friedrich vom Munchausen, que já mereceu vários livros e dois filmes, viveu entre 1720 e 1797 e distinguiu-se pela sua capacidade fenomenal de contar histórias de guerra e de caça absolutamente fantásticas e imaginativas. Viveu uma vida aventurosa, com duas campanhas militares na Turquia enquanto capitão de cavalaria do exército russo, e, entre as suas medalhas de glória, conta-se até, provavelmente, a de ter sido amante da Imperatriz Catarina. Sabe-se que, enquanto no activo, se diz ter percorrido a Rússia, o Mar Cáspio, as Islândia, a Turquia, o Egipto, Gibraltar, o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico. Teria até visitado a Lua, tomando devida nota dos métodos para cozinhar seres humanos aqui utilizados. Depois da reforma, transformou-se num conversador de renome, e deixou-nos uma longa lista de aventuras tão ousadas quanto imaginárias.
Por exemplo, terá usado cerejas como balas durante um cerco...
Terá sido amarrado a uma bala de canhão e assim projectado para além das linhas inimigas...
E, era esta a história a que eu queria chegar, um dia fugia a cavalo de uma hordem de inimigos. Começaram a atravessar um pântano, e, acto contínuo, o cavalo começou a afundar-se. Os inimigos estavam cada vez mais próximos. Para se salvar...

NA CAIXA DO CORREIO: DESEMPREGO

Portugal tem 54 mil licenciados desempregados. Os panditas do comentário deixam cair este número como se estisessem a referir uma desgraça específica, que é a de existirem demasiados jovens que preferem a Universidade ao trabalho imediato menos qualificado. E é assim: quem faz esta associação de ideias é parvo. Em primeiro lugar, a única e verdadeira desgraça implícita neste número é a reconfirmação de que Portugal não tem iniciativa empresarial nenhuma, não tem imaginação, não tem criatividade, não investe na qualidade, não sabe crescer: há uma imensa falta de quadros a coexistir com estes potenciais quadros que não encontram emprego. E, em segundo lugar, com toda a franqueza: asdesde quando é que as Universidades são agências de emprego? Parece-me que são antes polos de excelência e santuários de conhecimento, e se em vez de licenciados fossem 54 mil doutorados que estivessem desempregados isso bastaria para este cantinho ser um país melhor, porque os seus cidadãos seriam mais inteligentes, de raciocínio melhor treinado e capacidade superior de associação de conceitos. Até talvez fossem menos coniventes com o esclavagismo economicista que alastra por aí, e talvez até soubessem explicar porquê com clareza e coerência, fornecendo aos outros bases mais sólidas para pensarem na razão de ser deste pantanal. Menos universitários só representam um país mais estúpido. E, por isso, mais manipulável. Será mesmo isso que a gente quer?

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

FERRAMENTAS: Espólio de Egas Moniz disponível na Internet

Os historiadores da ciência e da medicina, em geral, e os estudiosos da vida e da obra do neurologista português António Egas Moniz (1874-1955), em particular, têm razões para, na sua loucura mansa, darem pulos de alegria. É que recentemente foi disponibilizado on-line (http://museuegasmoniz.cm-estarreja.pt) pela Casa Museu Egas Moniz uma boa parte do espólio documental do primeiro e único português a ser galardoado com o Prémio Nobel de Medicina ou Fisiologia. Mais de 50 mil documentos (em grande parte correspondência) foram digitalizados e estão agora à distância de um dedo. Estes documentos são ferramentas fundamentais no entendimento mais profundo e mais lúcido da vida e da obra do neurologista e, neste particular, a correspondência assume especial importância por permitir olhar os bastidores que antecedem a formalidade e que por vezes identifica as pontas que há muito pretendiamos atar. Por outro lado, permite uma melhor compreensão da forma como se processa a comunicação informal entre cientistas e das relações que estabelecem entre si. Na verdade, este livre acesso surge a partir de um projecto mais vasto, intitulado MEMDigital: Espólio de Egas Moniz à distância de um clique e que resultou na criação de um Centro de Gestão e Pesquisa Documental Egas Moniz, da iniciativa do Município de Estarreja e com a comparticipação financeira do programa Aveiro-Digital, tendo sido inaugurado no passado dia 29 de Novembro, precisamente no aniversário do nascimento de António Egas Moniz (29-11-1874). São mais de 50 mil documentos que aguardam agora o crivo de análise dos historiadores. É caso para dizer: mão à obra.

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

AGENDA: PEDIDO DE COLABORAÇÕES

A atual Diretoria da Sociedade Brasileira de História da Ciência (biênio 2004-22006) comunica aos pesquisadores nas áreas de História da Ciência, Filosofia da Ciência, Sociologia da Ciência e Ensino de Ciências que o seu órgão oficial de publicação, a Revista da SBHC, está recebendo artigos em português, espanhol, inglês e francês. A inclusão de artigos nessas quatro línguas faz parte do seu esforço em promover uma maior disseminação da revista, bem como integrar a comunidade brasileira especializada na área a outras existentes no mundo. Os atuais editores da Revista são os Profs.Drs. Antonio Augusto Passos Videira (UERJ, guto@cbpf.br) e Olival Freire Jr (UFBA). Maiores informações podem ser obtidas no sítio oficial da Sociedade: http://www.mast.br/sbhc/inicio.htm ou pelo e-mail revistadasbhc@mast.br . A revista tem mantido a sua periodicidade e já está disponível em versão eletrônica no site http://www.mast.br/sbhc/inicio.htm.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

NA CAIXA DO CORREIO: GRANDES PORTUGUESES

A GRANDE FEMINISTA
Adelaide Cabete marcou profundamente o lançamento do século XX português. Natural de Elvas, passou a infância e a primeira juventude a trabalhar na ameixa e a servir em casas ricas, onde aproveitou para aprender, sozinha, os rudimentos da escrita e da leitura. Só fez o exame da quarta classe aos 22 anos, já casada e empenhada na causa feminista e republicana. Acabou por vir para Lisboa e entrar em Medicina, contando-se, a propósito da sua dedicação extrema ao estudo, que memorizava as minudências da Anatomia com o livro encostado ao balde, enquanto lavava o chão. Tornou-se ginecologiata, abriu um consultório na Baixa, e entrou para a maçonaria. Como se todas estas opções pioneiras não lhe bastassem, foi também militante de campanhas anti-alcoólicas, abolicionistas, pacifistas, incluindo a denúncia de brinquedos bélicos, e ainda de defesa dos animais, incluindo o protesto contra as touradas. Mais se revelou excelente e prolixa oradora, e deu largas às suas capacidades organizativas e de liderança durante os mais de vinte anos em que foi presidente do Conselho Nacional das Mulheres. Está bem, não gostava de saias curtas. Não se lhe conhece mais nenhuma incoeencia.
Quem é que se lembra dela?
Aparentemente, milhares de pessoas. A grande feminista é uma das figuras da frente na votação para Os Grandes Portugueses. É um daqueles casos felizes, não tão frequentes como isso, em que todo o país está de parabéns.




DE MATERIALISTA A SANTO
Outro personagem que se mantém empedernidamente à frente da lista de Os Grandes Portugueses é o inefável Dr. Sousa Martins. Esse mesmo, o médico que, depois de morto, foi feito santo pelos doentes. Aquele que tem a estátua permanentemente ornamentada por flores frescas e velas acesas, num pedestal onde tanta gente vem ajoelhar-se e rezar. O cemitério de Alhandra, onde se encontra o seu jazigo, enche-se em cada dia 7 de Março e 18 de Agosto, as efemérides do seu nascimento e morte, com milhares de devotos adoradores. E, pelos vistos, a fé é tão forte, tão intensa, que o mantem à frente de uma corrida que também é disputada por Camões ou Egas Moniz. Porque de certeza que é no santinho, e não no cientista, que as pessoas estão a votar.
José Tomás de Sousa Martins pertence à geração heroica dos médicos e farmacêuticos que exerceram no final do século XIX e se dedicaram à luta contra a tuberculose, então um terrível flagelo dos pobres, e incurável antes da introdução da penicilina. Ficou ele próprio tuberculoso em Agosto de 1897, e suicidou-se logo a seguir, porque “nao se queria ver derrotado pela doença que tinha combatido constantemente durante a sua vida”, como costuma constar das biografias. O que é docemente irónico na sua transmutação em santo é o facto de, à semelhança do seu colega e amigo Miguel Bombarda, Sousa Martins ter abraçado o materialismo e abandonado toda a religião adquirida. Mas o povo é que manda. E o povo vota no santo.

AGENDA: Segundo Encontro de História das Ciências Naturais e da Saúde

Segundo Encontro de História das Ciências Naturais e da Saúde

Local e data: Lisboa
, Culturgest. 7 - 8 de Julho de 2007
Organização:
Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto de Investigação Científica de Bento da Rocha Cabral
Prazo limite para resumos:
28 de Fevereiro de 2007
Prazo limite para textos integrais (facultativos)
: 1 de Julho de 2007

Este encontro, que utiliza o Open Conference Systems desenvolvido pelo Public Knowledge Project, permite aos participantes submeter os resumos/abstracts online em http://www.ircabral.org/conferencias/submit.php?cf=1.

As apresentações podem incluir:

• Comunicação oral (resumo com max. de 250 palavras)
• Poster (resumo com max. de 250 palavras)

Comissão Científica:
  • Prof. António Amorim da Costa (Universidade de Coimbra)
  • Prof. António Augusto Marques de Almeida (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
  • Prof. Eduardo Crespo (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)
  • Prof. Ruy Pinto (Instituto Rocha Cabral/ Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)

Comissão Executiva:
  • Prof. Clara Pinto Correia (Secção de História e Filosofia da Ciência do IRC/ Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)
  • Prof. José Pedro Sousa Dias (Secção de História e Filosofia da Ciência do IRC/ Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa)
  • Prof. Ricardo Lopes Coelho (Secção de História e Filosofia da Ciência do IRC/ Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)

Tópicos para as sessões plenárias:
  1. Os olhares da História
  2. Saúde e Sociedade
  3. Ontogenia e Filogenia

Horário:
7 - 8 de Julho de 2007
Manhã - 10.30 às 13.30
Tarde - 15.30 às 19.30


Apelo à participação (Call for Papers Announcement)

Na sequência do Primeiro Encontro de História das Ciências Naturais e da Saúde, realizado na Arrábida em Julho de 2004, a Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral está agora a preparar o Segundo Encontro, desta vez centrado no mundo ibérico, estendendo-se aos países que têm o Português ou o Castelhano como língua oficial.

Os trabalhos estão abertos a todos os participantes interessados em apresentar contribuições nesta área, sem quaisquer limitações em termos de período histórico compreendido, em forma de comunicação oral de 15 minutos ou de poster. Aceitam-se como línguas do Encontro tanto o Português como o Castelhano.

A organização dos painéis de comunicações orais e posters, dependente no número de contribuições e das características específicas de cada tema, será apresentada formalmente a 1 de Abril de 2007. Poderão ter lugar várias sessões de comunicações em simultâneo. Competirá aos membros da Comissão Executiva assegurar a moderação destes paineis.

Os resumos (abstracts) das comunicações orais e dos posters serão sujeitos a um processo de revisão e aprovação e publicados no programa e livro de abstracts do Encontro, a distribuir aos participantes pelo Secretariado.

Os autores das conferências plenárias e das comunicações orais que forem aprovadas, serão convidados a afixar os respectivos textos integrais na página do Segundo Encontro, de forma a estes poderem ser lidos e consultados pelos restantes participantes inscritos. Estes textos poderão ficar online após a realização do Encontro, acessíveis através de pesquisa pelos sistemas de repositórios e bases de dados internacionais, utilizando o Protocolo OAI.

À semelhança do que foi feito no Primeiro Encontro, os textos das Comunicações Plenárias serão publicados no Livro de Actas, a publicar posteriormente na série "Opuscula officinara. Trabalhos de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral", em edição da Shaker Verlag e do Instituto Rocha Cabral.

O Livro de Actas do Primeiro Encontro de História das Ciências Naturais e da Saúde (Arrábida, Julho de 2004) estará disponivel no Secretariado para consulta ou aquisição, podendo ser igualmente adquirido através da página da editora.

PROGRAMA
DIA 7
9.30 - 10.30 - Inscrições, logística e distribuição de materiais do Encontro
10.30 - 13.30
Sessão Plenária: "Os olhares da História"
Profª Ana Maria Rodrigues (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
Profª Fátima Nunes (Universidade de Évora)
Moderação e Considerações Introdutórias: Prof. Augusto Fitas (Universidade de Évora)
11.30 - 12.00
Intervalo para café
15.30 - 19.30
Sessão Plenária: "Saúde e Sociedade"
Prof. Henrique Perdiguero (a confirmar) (Universidade Miguel Hernández - Alicante)
Prof. José Pedro Sousa Dias (Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa)
Prof. Laura Ferreira dos Santos (Universidade do Minho)
Moderação e Considerações Introdutórias: Prof. José David-Ferreira (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa)
17.00 - 17.30
Intervalo para café

21.00
Concerto
Programa a aunciar.
(Auditório ao ar livre da Culturgest)
Inscrições no Secretariado.

Dia 8

9.30 - 10.30 - Logística e distribuição de materiais
10.30 - 13.30 - Sessões livres e posters.
12 - 12.30
Intervalo para café
15.30 - 19.30
Sessão Plenária: "Ontogenia e Filogenia"
Prof. Isabel Delgado Eschevarria (Universidade de Zaragoça)
“Entre microscopios e insectos, cuando la citología dio (a) luz a la genética cromosómica”
Prof. Teresa Avelar (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)
Prof. Clara Pinto Correia (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)
"A eugenia das Luzes e as motivações de Vandermonde"
Moderação e Considerações Introdutórias: Prof. Luís Vicente (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)
17.00 - 17.30
Intervalo para café.

Quaisquer esclarecimentos de dúvidas podem ser obtidos através do email: clara@ulusofona.pt

sábado, 25 de novembro de 2006

AGENDA: PRÉMIO PARA CARLOS FIOLHAIS

O físico Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra, foi distinguido com o prémio Rómulo de Carvalho, numa sessão solene que decorreu na Sala de Actos da Universidade de Évora. Presidida pelo Prof. Jorge Araújo, reitor daquela Universidade, a cerimónia contou ainda com a presença de vários dos membros do júri, e também do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, José Mariano Gago. Ao usar da palavra, este último elogiou a Universidade de Évora pela criação do Prémio, destinado a premiar o mérito em História, Didáctica e Pedagogia da Ciência, felicitou Carlos Fiolhais pelo seu "excelente" desempenho da divulgação da Física e pela sua "energia incansável" no trabalho que tem feito junto das escolas secundárias; e ainda recordou as suas próprias interacções com Rómulo de Carvalho, nos últimos anos de vida do cientista, divulgador e poeta -- salientando ter sido dele próprio que partiu a iniciativa de alterar o título da Física para o Povo para Física do Dia a Dia, já que, como terá comentado na altura, "o povo deixou de existir". Carlos Fiolhais comprometeu-se, no discurso de aceitação do prémio, a continuar o seu trabalho de divulgação, nomeadamente a série Física Divertida, e também a "aprender mais sobre História da Ciência" com "outros colegas mais experientes". A sessão terminou com um concerto de cravo, seguindo-se uma deslocação do ministro a Estremoz, para inaugurar o pêndulo de Focault do centro Ciência Viva daquela cidade.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

AGENDA: Prémio Rómulo de Carvalho

É já no próximo dia 24 de Novembro que vai ter lugar, em sessão solene a decorrer na Universidade de Évora, a entrega do Prémio Rómulo de Carvalho. Comemora-se nesta data o dia da Ciência e o aniversário de Rómulo de Carvalho, e o prémio visa distinguir bienalmente um autor de língua portuguesa, relevante no domínio da História da Ciência, da Didáctica das Ciências ou da divulgação da cultura científica. As propostas são oriundas de Universidades e Institutos Científicos dos países de língua portuguesa, devendo cada candidatura ser fundamentada com a apresentação do autor e da respectiva obra científica.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

AGENDA: Conferências no Instituto Rocha Cabral

Conferências no Instituto Rocha Cabral (2006)

Local: Sala de Conferências do Instiituto Rocha Cabral, Calçada Bento Rocha Cabral, 14, Lisboa (Largo do Rato)

Telef./Fax 213882993

20 de Novembro, Segunda–feira às 21.15 horas
O que descobriram os descobridores da energia
Ricardo Lopes Coelho – Prof. Aux. da Fac. Ciências da Universidade de Lisboa, Univ. Técn de Berlim e Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral.

22 de Novembro, Quarta–feira às 21.15 horas
As esposas e as outras: as mulheres nas Ciências Biológicas na 1ª metade do Séc. XX
José Pedro Sousa Dias – Prof. Ass. da Fac. Farmácia da Universidade de Lisboa e Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral.

27 de Novembro, Segunda–feira às 21.15 horas
Pierre Curie – Radioactividade e não só…
Maria Elisa Maia – Prof. Aux. (aposentada) da Fac. Ciências da Universidade de Lisboa.

29 de Novembro, Quarta–feira às 21.15 horas
J. J. Thomson, o estudo das descargas e a microfísica
Isabel Serra – Prof. Aux. da Fac. Ciências da Universidade de Lisboa.

4 de Dezembro, Segunda–feira às 21.15 horas
Paul Langevin: Sábio, puro e iluminado
Ruy Carvalho Pinto – Prof. Cat. (Jubilado) da Fac. Ciências da Universidade de Lisboa e Director do Instituto Rocha Cabral.

6 de Dezembro, Quarta–feira às 21.15 horas
Rómulo de Carvalho, comunicador
Fernando Bragança Gil – Prof. Cat. (Jubilado) da Fac. Ciências da Universidade de Lisboa.

11de Dezembro, Segunda–feira às 21.15 horas
A Eugenia no Séc. XVIII: as inspirações de Vandermonde
Clara Pinto Correia - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

LER: CALAMITÉS ET MIRACLES

O bispo Grégoire de Tours é considerado por vários especialistas o melhor escritor da Gália franca durante o século VI, quando a região atravessava tempos sombrios, num clima geral de decadência -- no qual, segundo a introdução do clérigo à sua obra ambiciosa Histoire des Francs, já ninguém envidava esforços para cultivar as letras, deixando a língua entregue aos acasos tribais. O volume Calamités et Miracles apresenta-nos excertos representativos desta obra notável, focando-se exclusivamente sobre as descrições que Grégoire nos deixou tanto de "calamidades" como de "milagres". Tanto uns como outros são emblemáticos da mente educada da Alta Idade Média, profundamente enamorada do maravilhoso e do fantástico. Embora esta fonte não se encontre distribuída em Portugal, pode ser consultada na Bibioteca da Secção de História e Filosofia da Ciência do Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral, em Lisboa.

AGENDA: NANNING, AGOSTO 2007

Vai ter lugar de 20 a 24 de Agosto, na cidade de Nanning, a 11th International Conference on History of Science and Technology in China, subordinado os temas Science and Technology Innovation & Scientific view of Development e Science, Technology and Civilization of Chinese Ethnic Groups. Destina-se, fundamentalmente, aos que trabalham em história da ciência e tecnologia, e civilização na China ou em países vizinhos. Os abstracts podem ser enviados até ao fim de Janeiro de 2007.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

LER: Repositório de História e Filosofia das Ciências no Instituto Rocha Cabral

A Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral colocou online o seu repositório de publicações.

De momento já se encontram disponíveis os textos integrais dos artigos da autoria dos membros da Secção publicados nos volumes 1 e 3 da série Opuscula officinara. O volume 2, por corresponder a uma única obra, não ficará, pelo menos por enquanto, disponível.

Somos adeptos de uma política de Acesso Livre à literatura científica, pelo que disponibilizaremos no nosso Repositório todas as publicações científicas da secção ou dos seus membros, desde que para tal não exista qualquer impedimento legal, resultante de compromissos assumidos com as respectivas editoras.

O endereço do repositório é: http://www.ircabral.org/repositorio/

Ele faz parte da reformulada página da secção em http://www.ircabral.org/shfc/

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

AGENDA: Saúde Ambiental e História

Environment Health & History
Conferência da Associação Europeia para a História da Medicina e da Saúde
Data: 12-15 de Setembro de 2007
Local: Brunei Gallery, Bloomsbury, Londres.
Organização: London School of Hygiene and Tropical Medicine e European Association for the History of Medicine and Health
Resumos: Até finais de Novembro de 2006
URL: http://www.lshtm.ac.uk/history/EAHMcallforpapers.html

domingo, 8 de outubro de 2006

AGENDA: EVOLUÇÃO E CRIACIONISMO

Recentemente, o Papa Bento XVI nomeou um grupo de missão para fazer o levantamento do que há de melhor e mais recente nos domínios da Evolução e do Criacionismo Científico, por forma a comparar os dados e tentar chegar a alguma plataforma de entendimento sobre como deve ser apresentada a história da vida na Terra, pelo menos ao mundo católico. Esta iniciativa inédita marca uma viragem de peso na tradição das relações ciência-religião neste domínio: tradicionalmente, os teólogos afastavam-se de todo e qualquer comentário sobre o Criacionismo Científico, sendo este implementado, defendido e desenvolvido estritamente por cientistas de tendência religiosa fundamentalista. Perante o peso desta iniciativa, que certamente irá fazer correr rios de tinta nos próximos tempos, torna-se urgente informar rigorosamente a população sobre o que propõem exactamente as teorias evolucionistas, e o que defendem, em contrapartida, os criacionistas. Neste sentido, o grupo de Biologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias está a preparar-se para começar a coligir um volume, com vista a publicação numa editora e on-line, que reuna os principais textos do Creacionismo Científico, devidamente comentados e contrapostos pelas ideias evolutivas adequadas. Quem estiver interessado em integrar este grupo de trabalho pode, desde já, deixar o seu nome e contacto em sandra.abrantes@ulusofona.pt, ou fazer a inscrição pelo telefone 21.7515573.

NA CAIXA DO CORREIO: UM POEMA TÃO SIMPLES

Chegou finalmente ao topo da minha pilha de leituras nocturnas o volume Contos Apátridas, com contribuições de cinco autores de língua espanhola em torno da ideia da pulverização da pátria, editado pela Asa já há mais de um ano. Todos os contos são muito bons, e a forma como a noção de pátria muda de sentido em cada um deles deixa-nos sempre surpreendidos. Mas, a mim, o que me seduziu acima de tudo foi uma visita especial presente em Antiga Morada, de Antonio Saraiva. É um poema tão simples quanto evocativo escrito há mais de mil anos, da autoria de um poeta taoista chinês chamado Li Po, É uma joia belíssima, que nos fere exactamente pela noção da intemporalidade dos fenómenos. Reza assim:

Aqui foi a antiga morada do rei Wu.
Livre cresce hoje a realva nas suas ruínas.
Mais ao longe, o imenso palácio dos T'sing, outrora tão sumptuoso e tão temido.
Tudo isso foi e já não é, tudo chega ao seu término.
Os acontecimentos e os homens viajam para a morte,
Assim como as águas do rio azul correm até se perderem no mar.

E agora, volvidos tantos séculos, algum de nós conseguiria alguma vez dizer isto melhor?

NA CAIXA DO CORREIO: SABEDORIA

Passei uma tarde inteira a catalogar os livros da biblioteca do nosso Centro. É uma experiência estranha, passar tantas horas as segurar volumes, a ler títulos e subtítulos, a folhear índices e prefácios, a ler notas de contracapa. Tanta sabedoria que está ali concentrada, quieta e calada, longe do mundo. Nós às vezes vamos buscar um dos livros, de que estamos a precisar ara o nosso trabalho, corremos-lhe as páginas com os olhos até encontrarmos a parte de que íamos à procura, estudamos cuidadosamente essa secção, retiramos dela o que precisávamos, e depois devolvêmo-lo à prateleira. É diferente quando encaramos os livros todos de uma vez, mais de um milhar deles, recheados de informações e paisagens e visões de outrém, de histórias longínquas e de contovérsias prementes, num jorro inquieto de estudos e pensamentos que nos dá vontade de mergulhar a fundo e só voltar à superfície muito depois. Fica-se irremediavelmente impressionado quando se mede o esforço de saber e entendimento que tem agitado o mundo desde que os humanos caminham sobre a sua superfície. Dá vontade de parar tudo para ficar ali a saber mais, cada vez mais. Não há nada mais empolgante do que a aventura do conhecimento.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

NA CAIXA DO CORREIO: O OVO DE COLOMBO

Tenho um amigo que passou o último ano lectivo de licença sabática no Museu de História Natural em Paris. Voltou de lá impressionadíssimo com uma solução que os franceses adoptaram para pôr na ordem a circulação de automóveis particulares dentro das grandes cidades que é um verdadeiro ovo de Colombo. É um sistema que foi cuidadosamente negociado com os sindicatos, e que agora figura com todas as letras no contrato colectivo de trabalho: faz parte do ordenado de todos os trabalhadores receberem ao fim do mês, juntamente com o dinheiro, o passe social. Note-se, não é uma figura de estilo em que o preço do passe se acrescenta ao valor a receber, não – estamos mesmo a falar de um rectângulo de plástico com a vinheta para o mês seguinte que faz parte integrante do salário. Ninguém á obrigado a utilizá-lo, mas o efeito psicológico deste pagamento explica-se a si próprio. Claro que, depois de o terem na mão, muitos dos que se tinham habituado a fazer todas as deslocações em carro próprio já pensam duas vezes: então, se têm ali aquele acesso aos transportes públicos que não lhes custou um tostão e podem passar o mês a viajar à borla... Não é? Este meu amigo diz que, a partir do momento em que recebeu o seu primeiro ordenado parisiense, nunca mais pegou no carro – que, no entanto, tinha levado consigo desde Lisboa.
Bem podíamos começar a pensar em fazer o mesmo.

NA CAIXA DO CORREIO: INCONVENIÊNCIAS

Se ainda não foram ver o tão falado documentário do Al Gore, Uma Verdade Inconveniente, façam o favor de ir. É importante. Não se trata de um panfleto qualquer: é o resultado do trabalho incansável e meticuloso de um homem que tomou para sua missão de vida a luta pelo futuro do planeta Terra, e nesse sentido é um aviso formidável que nos cai em cima como a bofetada de que precisávamos para acordar, ao mesmo tempo que nos oferece uma boa quantidade de sugestões sobre o que cada um de nós pode fazer para acudir desde já ao drama do aquecimento global. Tudo o que nos é dito a este respeito está baseado em informação científica séria e sólida. Al Gore digeriu-a e sintetizou-a muito bem, como o bom aluno que sempre foi, e sabe apresentá-la com brio, sobriedade e transparência. Lembrem-se que este trabalho foi feito maioritariamente para os americanos – e, destes, pelo menos metade (a metade que vota no senhor Bush) ainda acredita que o aquecimento global é uma mera teoria, e não um facto científico mais que comprovado e consensual. Bush, aliás, chama a Gore “um fanático” que “quer que vivamos rodeados de mochos e sem empregos”. É a cegueira desesperada de quem não quer que o futuro seja levado em linha de conta, para não ter que deixar de cantar laudas ao consumo imediato e desenfreado a todo o custo. Poderemos abrir os olhos aos cegos? Para já, podemos abrir os nossos. Uma Verdade Inconveniente dá-nos uma grande ajuda.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

LER: Alguns repositórios de publicações em História e Filosofia das Ciências

A disponibilização de artigos e outros textos em Acesso Livre constitui hoje uma das principais formas como a comunidade dos investigadores pode defender o carácter público e aberto do conhecimento científico. Os quatro repositórios a seguir indicados têm características muito distintas, mas partilham entre si o facto de estarem ligados à história e filosofia das ciências e de, apesar das suas diferenças, utilizarem o mesmo software livre (GNU EPrints) para gerir e manter a sua infra-estrutura:
1. PhilSci Archive ou PITTPHILSCI é um arquivo electrónico de preprints em filosofia da ciência, que já conta com mais de 1.100 documentos. É mantido pela Philosophy of Science Association, pelo Centro de Filosofia da Ciência e pela Biblioteca da Universidade de Pittsburgh (EUA).

2. HTP Prints é outro arquivo disciplinar, neste caso dedicado à história e teoria da psicologia. Mantido pelo respectivo programa da York University (Toronto, Canadá)

3. Caltech Archives Oral Histories Online é um repositório de transcrições de entrevistas com membros da comunidade de docentes e investigadores ligados à Caltech e pertencentes a várias disciplinas.

4. Canadian Bulletin of Medical History / Bulletin canadien d'histoire de la médecine é um repositório em acesso livre de todos os artigos publicados numa única revista.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

LER E PARTICIPAR

A colecção Bilhetes de Identidade, publicada em formato de romance de cordel pela editora Apenas Livros (preço de venda ao público: 3 euros), foi criada há dois anos pelo Instituto de Estudos de Literatura Tradicional e conta já com 23 títulos. Entre eles, há tratados tão diversos como BI do Lobisomem, BI dos Principes Encantados, BI da Aranha, BI do Exu e da Pombagira, ou o BI do Azeite e da Azeitona . Outros esão em preparação, estendendo-se a temátimas como a rolha, o segredo, ou o silêncio. Como nos explica o lema da colecção, repetido em todos os volumes, estamos perante os "Bilhetes de Identidade de Bichos e Quejandos", "emitidos por quem os conhece de gingeira", que nos "revelam quem somos e ao que andamos". Se este último objectivo pode parecer demasiado ambicioso, Ana Paula Guimarães, directora do IELT e da colecção, adianta:

"Pelo menos, nós damos uma ajuda. O leitor descobre que não é tão diferente do resto do mundo que o rodeia como isso, porque no tempo em que os animais falavam eles representavam-nos a nós, com os nossos gostos e os nossos vícios. E isto, como já te disse, não se aplica só aos animais, mas a todas as entidades do ecossistema em que vivemos, e em que cada ser tem o seu peso. Uma pedra tem um peso igual ao de um humano, porque na tradição popular os penedos conversam, as árvores tomam decisões, como o pinheiro que se arranca a si próprio do chão no fim da história do Capuchinho Vermelho."

A colecção vai continuar a crescer, e está aberta a colaborações de todos os académicos interessados. O email de contacto é:
aanaguimaraes@sapo.pt

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

AGENDA: ESSHC 2008 em Lisboa

European Social Science History Conference

* A ESSHC 2008 terá lugar em Lisboa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de 27 de Fevereiro a 1 de Março de 2008.

A ESSHC tem como objectivo reunir investigadores que procuram explicar os fenómenos históricos utilizando métodos das ciências sociais. As sessões são organizadas em redes, incluindo uma sobre Tecnologia.

Informações: ESSHC 2008

LER: Wellcome Library Newsletter


A Wellcome Library, a melhor biblioteca europeia de história da medicina, fez sair mais um número (Agosto de 2006) da sua Library Newsletter . Destaque para a correspondência do explorador, médico e missionário David Livingstone (1813-1873), disponível em: Livingstone Online.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

LER: Breves Notas sobre Ciência

«Cépticos como os cépticos, crente como os crentes. A metade que avança é crente, a metade que confirma é céptica. Mas o cientista perfeito é também jardineiro: acredita que a beleza é conhecimento.»

É com este texto em contra-capa que nos é apresentado Breves Notas sobre Ciência (Relógio d'Água, 2006), o mais recente livro de Gonçalo M. Tavares. Pequenas digestões de visões sobre o lado mais incomum da ciência.

Vejamos o que diz sobre História das Ciências:

História da Ciência (1)
A História das Ciências encontra-se sempre

ligeiramente atrasada em relação à História dos

Desejos.

Há metáforas famosas, peguemos nelas.
É como se os cavalos fossem o Desejo e a car-
roça puxada por eles a ciência.
Se os cavalos se separarem da carroça ganharão
velocidade, mas perderão utilidade pública; a socie-

dade quer funções e não fugas.

Mas o pior sucede mesmo à carroça. Se os cava-
los se separam dela, ela não mais se moverá. (p.26)

História das Ciências (2)

Claro que é o cientista com o seu chicote que

direcciona cavalos e carroça. (p.27)

História das Ciências (3)
Se entrarmos em terrenos psicanalíticos podere-

mos dizer que a infância, os prazeres, e os medos,
guiam o chicote do cientista. (p.28)

História das Ciências (4)

Se entrarmos em terrenos místicos poderemos
dizer que é o Destino que guia a infância, os pra-
zeres e os medos de um indivíduo. (p.29)

História das Ciências (5)
As investigações científicas dependem, pois, de
Deus, do Acaso ou do Destino (ou do que se lhe
quiser chamar).
Mas, apesar de tudo, dependem também da Razão. (p.30)

quarta-feira, 19 de julho de 2006

AGENDA: Homenagem ao Prof. Ruy Pinto no Instituto Rocha Cabral


A Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto de Investigação Científica de Bento da Rocha Cabral organiza uma sessão de homenagem ao Prof. Doutor Ruy Eugénio de Carvalho Pinto, Prof. Catedrático Jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, comemorando os seus dez anos como director do Instituto.
A sessão terá lugar na sala de conferências do Instituto, na Calçada Bento da Rocha Cabral, 14, no dia 24 de Julho de 2006 (segunda-feira), pelas 18,30 horas.
A sessão de homenagem, que contará com a presença do Magnífico Reitor da Universidade de Lisboa, Prof. Doutor António da Nóvoa, incluirá uma alocução sobre o homenageado proferida pelo Prof. Doutor Fernando Bragança Gil, Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e a apresentação do terceiro número da série Opuscula officinara, intitulado "Estudos sobre a Ciência em Homenagem a Ruy E. Pinto".

quinta-feira, 6 de julho de 2006

LER: O ideal de Ramón y Cajal

Na Imprensa Médica de 25 de Janeiro de 1940 (Ano VI, n.º 2)
*
Karl Popper, um filósofo do século XIX, foi sintético e objectivo no punho. Escreveu o seguinte: «Pessoalmente julgo que existe pelo menos um problema… que interessa a todos os homens que pensam: o problema de compreender o mundo, nós mesmos e o nosso conhecimento enquanto parte do mundo». Na velha demanda da descoberta do mundo, o problema de que nos fala Popper esteve sempre presente. Basta para isso analisar com alguma atenção a estruturação do pensamento ocidental e a forma como essa mesma estruturação se fez de avanços e recuos, de saltos para a frente e para trás e de guerras contra a verdade do outro. O problema de que nos fala Popper será porventura o problema histórico da humanidade que faz a própria humanidade acontecer. A diversidade do mundo não é feita somente de diferentes estruturas anatómicas como resultado de uma acção selectiva por parte do meio ambiente. A diversidade do mundo é feita também de diferentes formas de ver e de pensar o mundo como por exemplo a assimetria cultural existente, embora em grande parte efabulada, entre o ocidente e o oriente. Por conseguinte, conhecer as diferentes formas de ver e de pensar o mundo dos diferentes tempos históricos é conhecer acima de tudo as profundezas e as naturezas dos homens daqueles tempos, as suas ambições e os seus medos, as suas crenças e as suas descrenças. Ficamos pois a saber mais sobre esses homens do que propriamente sobre o mundo que os rodeava. E por isso ficamos a saber mais sobre nós próprios. O senhor que se segue, Newton, escreve na sua Filosofia Experimental algo intimamente ligado a este enviesamento perceptivo: «Não sei o que posso parecer aos olhos do mundo; mas para mim próprio pareço ter sido apenas um rapazinho a brincar à beira do mar, divertindo-me com encontrar de vez em quando um calhau mais liso ou uma concha mais bonita que de ordinário, enquanto o grande oceano da verdade continua por descobrir à minha frente». De facto, o mundo pula e avança de cada vez que a ciência descobre mais um pouquinho deste mundo. Mas mais do que pular e avançar, o mundo vai-se descobrindo a si próprio. Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), um médico histologista espanhol que desenvolveu importantes estudos sobre o sistema nervoso central e, por isso, um cientista na sua forma mais pura, falou-nos do seu ideal (ver imagem em cima), que é, ao fim e ao cabo, o ideal de todos aqueles que percorrem o caminho menos percorrido.

segunda-feira, 19 de junho de 2006

LER: Opuscula officinara - Volume I e II

Opuscula officinara
Trabalhos de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral

A série Opuscula officinara pretende publicar regularmente estudos monográficos, actas de reuniões científicas e opúsculos temáticos produzidos no âmbito da secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral. A edição é realizada pela Shaker Verlag GmbH para o Instituto Rocha Cabral. A publicação é realizada simultaneamente em papel e em formato electrónico. Exemplares electrónicos ou impressos podem ser adquiridos online em Shaker Verlag, onde também se disponibilizam gratuitamente os respectivos índices de conteúdo.

Volumes já editados


















O primeiro volume da Opuscula officinara foi publicado em Dezembro de 2005. Intitulado Primeiro Encontro de História das Ciências Naturais e da Saúde e coordenado por Clara Pinto Correia, este volume reune algumas das comunicações proferidas no âmbito do Encontro Internacional de História das Ciências que se realizou em Junho de 2004 no magnífico Convento da Arrábida, sob o patrocínio da Fundação Oriente. +info


















O segundo volume da Opuscula officinara foi publicado em Março de 2006 sob o título O Conceito de Energia: passado e sentido. Da autoria de Ricardo Lopes Coelho, este volume reune à volta da energia e da força nomes como Mayer, Joule, Helmholtz, W.Thomson, Rankine, Maxwell, Lodge, Poynting e Ostwald. +info

quinta-feira, 18 de maio de 2006

LER: Farmacopolítica

Postos recentemente em destaque pelo filme "O Fiel Jardineiro", baseado no romance homónimo de John le Carré, os ensaios clínicos levados a cabo pela indústria farmacêutica constituem um tópico central da política de regulação de medicamentos. Esta é o objecto do livro de Arthur A. Daemmrich. Pharmacopolitics: Drug Regulation in the United States and Germany, publicado pela University of North Carolina Press em 2004 e que recebeu em 2006 o Edward Kremers Award, do American Institute for the History of Pharmacy.

Arthur Daemmrich é desde 2005 o director do recém criado Center for Contemporary History and Policy da Chemical Heritage Foundation.

Do livro, é possível ler na Net:

Conteúdo
Introdução

Arthur A. Daemmrich. Pharmacopolitics: Drug Regulation in the United States and Germany. Studies in Social Medicine Series. Chapel Hill and London: University of North Carolina Press, 2004. xi + 203 pp. ISBN 0-8078-2844-0.

Recensões deste livro:

Por Robert P. Stephens, na H-Net.

Por Janice M. Reichert, no New England Journal of Medicine.

Por Carsten Timmermann, no Journal of the History of Medicine and Allied Sciences. 61,1(2006)103-105.

Do mesmo autor, ler na Net:

Arthur Daemmrich, Mary Ellen Bowden. A Rising Drug Industry. Chemical & Engineering News. Special Issue. The Top Pharmaceuticals That Changed The World. Vol. 83, Issue 25 (20/06/2005).

LER: The Rutherford Journal


The Rutherford Journal é uma revista de história e filosofia da ciência e da tecnologia publicada electronicamente na Nova Zelândia pelo Departamento de Filosofia da Universidade de Canterbury. A revista é dedicada a Ernest Rutherford, que nasceu e estudou na Nova Zelândia, antes de partir para a Inglaterra em 1895, para estudar como pós-graduado no Cavendish Laboratory em Cambridge. O Volume 1 saiu em Dezembro de 2005 e inclui artigos sobre história da física, da química, da biologia, da matemática, da informática e de outros aspectos da história da tecnologia. A revista encontra-se livremente disponível em: http://www.rutherfordjournal.org/

quinta-feira, 4 de maio de 2006

LER: A Mente de Leonardo

Na maré da leonardomania, desencadeada pelo famigerado "Código D.", é bom podermos contar com algumas iniciativas de qualidade. Uma delas veio do Istituto e Museo di Storia della Scienza [IMSS], fundado em 1927 por iniciativa da Universidade de Florença. É uma exposição nesta cidade, na Galleria degli Uffizi, disponível na Net, com o título:

La mente di Leonardo - Nel laboratorio del Genio Universale (em italiano)

The Mind of Leonardo - the Universal Genius at Work (em inglês)

Como o subtítulo indica, a exposição visa 'explorar o trabalho e os processos do "Génio Universal "'. A exposição, dividida em seis secções, inclui texto, imagens, reconstruções e animações em vídeo. É pena que a dimensão das imagens disponíveis seja tão reduzida, mas esta característica traduz-se numa maior velocidade de transferência de dados.

terça-feira, 25 de abril de 2006

VER: O Homem na Encruzilhada.

Em homenagem ao 25 de Abril, a "Imagem em destaque" no Portal de História da Ciência da Wikipédia lusófona é o mural de Diego Rivera, originalmente denominado "O Homem na Encruzilhada".
O Homem controla o Universo. Mural de Diego Rivera, 1934.

 AmpliarO Homem controla o Universo. Mural de Diego Rivera, 1934, no Palacio de Bellas Artes, Cidade do México. Uma versão deste mural foi pintada originalmente em 1933 no Rockefeller Center, com o título O Homem na Encruzilhada, olhando com esperança para um futuro melhor. Este título é reminiscente do "Science at the crossroads" que fora dado à compilação das comunicações apresentadas ao Congresso de História das Ciências de Londres, em 1931, pela delegação soviética liderada por N. Bukharine. A ciência, aliás, ocupa de facto o centro do mural. Irritados com a representação de Lenine, Trotsky e outros dirigentes do movimento operário, os Rockefeller destruíram o mural original em 1934.

sexta-feira, 24 de março de 2006

LER: Rotação

«A essência de Deus é como a roda (...), quanto mais contemplarmos a roda, mais compreendemos a sua forma, e quanto mais compreendermos, tanto mais prazer tiramos da roda (...).»
(J.Böhme, 1612)

[in Alquimia & Misticismo, de Alexander Roob]

LER: Microcosmos

«O mundo é, antes de mais, a totalidade de tudo o que existe, formado pelo céu e pela terra (...). Porém, no seu segundo sentido místico, é apropriadamente identificado com o homem. Porque, assim como o universo se formou de quatro elementos, assim o homem se compõe de quatro humores (...).»
(Isidoro de Sevilha, 560-636 d.C., De natura rerum)

[in Alquimia & Misticismo, de Alexander Roob]

domingo, 19 de março de 2006

LER: The Cambridge History of Science, volume 3

No final deste mês a Cambridge University Press lança o terceiro volume da colecção The Cambridge History of Science, editado por Lorraine Daston, distindo director do Max Planck Institute for the History of Science e professor na Humboldt-Universirät (Berlim), e por Katharine Park, não menos distinta professora de história da ciência e de estudos sobre a mulher, o género e a sexualidade na prestigiada Harvard University (EUA). Este terceiro volume trata o conhecimento do mundo natural na Europa dos séculos XVI a XVIII. Frequentemente referido como a Revolução Científica, este período testemunhou fantásticas transformações em campos tão diversos como a anatomia e a astronomia, a história natural e a matemática. Reunindo artigos de vários especialistas, este volume ousa descrever com grande lucidez, numa prosa acessível complementada por extensa bibliografia, como as novas ideias, descobertas e instituições moldaram a forma pela qual a natureza veio a ser estudada, compreendida e usada.

Título: The Cambridge History of Science, Volume 3: Early Modern Science
by Katherine Park and Lorraine Daston
Cambridge University Press (May 31, 2006)
736 páginas, ISBN 0521572444
Disponível já na Amazon

LER: Opus Magnum

Numa alusão à obra divina da criação e ao projecto de redenção nela contido, o processo alquímico foi designado por «Grande Obra». Nesse processo, uma matéria inicial, misteriosa e caótica, chamada materia prima, em que os opostos se encontram ainda inconciliáveis num conflito violento, deve ser transformada progressivamente num estado de libertação de harmonia perfeita, a «Pedra Filosofal» redentora ou o lapis philosophorum: «Primeiro, combinamos, em seguida decompomos, dissolvemos o decomposto, depuramos o dividido, juntamos o purificado e solidificamo-lo. Deste modo, o homem e a mulher transformam-se num só.»
(Büchlein vom Stein des Weisen, 1778)

[in Alquimia & Misticismo, de Alexander Roob]

LER: Macrocosmos

O Universo ou a Grande Ordem Universal foi concebido, segundo Platão, pelo Deus criador como manifestação e imagem da sua própria perfeição: «(...) e assim criou-o como um único ser vivo visível, que contém em si todas as criaturas afins (...).
Através da rotação deu-lhe a forma esférica (...), conferindo-lhe pois a figura que é, de entre todas, a mais perfeita.»
(Timeu, c.410 a.C.)

[in Alquimia & Misticismo, de Alexander Roob]

terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

LER: A arte da ciência, ou a ciência na arte

De Humanis Corporis Fabrica (1543), de Andreas Vesalius

«(...) o que se encontra neste livro não é já, simplesmente, o estudo duma região anatómica, como haviam feito Dürer, Miguel Ângelo e, sobretudo, Leonardo da Vinci. É a globalidade da arquitectura do corpo humano ligado à vida quotidiana. Nada até aí atingira a nobreza e a precisão daquelas estampas. Aquele esqueleto, por exemplo, de pé, de perfil, um tanto curvado, que se apoia negligente numa espécie de grande mesa colocada à direita do desenho. Ergue-se sobre o fundo de paisagem em miniatura, essa amálgama de palácios, de ruínas, de colinas salpicadas de ávores anãs, que balizava as perspectivas renascentistas. O que dá a cada um dos ossos relevo e nitidez é uma luz, bastante suave, que dimana do alto, à direita, de forma que a sombra se esboça por detrás do crânio e das vértebras. O esqueleto tem uma postura um tudo-nada mole, como se o artista tivesse querido dar uma impressão de indolência e de recolhimento. Indolência, devido à posição ligeiramente desengonçada: o peso do esqueleto recai sobre a perna direita, que se mantém estendida, enquanto o joelho esquerdo se flecte apenas o suficiente para dar às tíbias a possibilidade de se cruzarem, pé esquerdo somente apoiado na ponta. Mas impressão de recolhimento também, porque o braço esquerdo, de cotovelo na mesa, se dobra em ângulo agudo, de forma que a cabeça se apoia nas costas da mão, na atitude do pensador. Mas o que atrai a atenção e dá intensidade à gravura é a face voltada para um outro crânio, que a mão direita segura sobre a mesa. Bem abertas, as órbitas do esqueleto parecem perscrutar essoutra face. Como se o homem se quisesse estudar a si mesmo. (...)»
(Fançois Jacob, in O Jogo dos Possíveis - Ensaio sobre a diversidade do mundo vivo, 1981)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

CONTEÚDOS: Apelo à colaboração na Wikipédia


Quem tenha seguido os últimos posts deste blog, certamente reparou que afixei aqui alguma da colaboração enviada para a Wikipédia lusófona. Este post é um apelo para que outros investigadores colaborem neste projecto de enciclopédia livre e aberta.
A Internet em geral e a Wikipédia em particular tornou-se um repositório de informação utilizado sistematicamente como referência por alunos de pré-graduação de todas as universidades. Essa utilização é frequentemente feita de forma acrítica e sem critério. Ignorá-la é um erro. Encará-la apenas de forma negativa continua a ser um erro.

Alguma história recente

A dimensão da importância da Wikipédia levou alguns professores a utilizá-la no processo de aprendizagem. O resultado de uma dessas experiências foi descrita no post "Whither Wiki?", afixado pelo historiador T. Mills Kelly no edwired em 14 de Dezembro do ano passado[1]. Um ponto alto da atenção prestada à Wikipédia teve lugar precisamente no mesmo dia do post anterior, quando a revista Nature publicou um artigo de Jim Giles, "Internet encyclopaedias go head to head", descrevendo os resultados (algo surpreendentes) de um estudo comparativo com a Encyclopedia Britannica[2]. Entre outros pontos destacados no artigo de Giles, conta-se o apelo dos organizadores da Wikipédia aos cientistas, para melhorarem o conteúdo da enciclopédia livre. No âmbito da história da ciência, este apelo não deixou de dar os seus frutos. A 15 de Janeiro de 2006, o utilizador Ragesoss (Sage Ross, um estudante de pós-graduação do Programa de História da Medicina e da Ciência da Yale University) iniciou o WikiProject History of Science com a finalidade de melhorar o conteúdo em história da ciência da Wikipédia[3]. Este projecto, que conta neste momento com mais de duas dezenas e meia de colaboradores inscritos, veio dar novo fôlego ao History of Science Portal, iniciado em 27 de Março de 2005 pelo utilizador Ancheta Wis[4].

Argumentos

Vou só resumir algumas observações que me parecem pertinentes:

  1. Sobre o conteúdo. O conteúdo da Wikipédia depende dos colaboradores. Dadas as suas características (os contributos podem ser livremente modificados e só são assinados no log do histórico das revisões), é compreensível que os investigadores não se sintam atraídos a escrever artigos de propósito para a Wikipédia. Contudo, nada os impede de adaptar e resumir textos anteriormente publicados, em papel ou na Net. Se os textos são da nossa autoria, somos livres de os editar para a publicação na Wikipédia. O log do histórico e uma citação da nossa fonte na bibliografia e/ou nos links do artigo é o bastante para defender a autoria (não a propriedade) intelectual. É um esforço mínimo, com largos resultados.
  2. Para além do conteúdo. A participação no projecto da Wikipédia é (para todos, incluindo nós próprios) não só uma experiência de conhecimento e de comunicação, mas também de cidadania, de respeito pelos outros, de tolerância, de empenhamento e de colaboração num contexto inter-(cultural e nacional), que vale por si só como uma importante ferramenta de ensino e de formação. O envolvimento, activo e acompanhado, de alunos de pré e pós-graduação neste projecto pode constituir uma importante acção formativa. Aquilo que poderia parecer um ponto fraco do projecto (a livre edição) torna-se aqui um ponto forte. A correcção de artigos existentes e a redacção de novos artigos, a sua discussão com professores e orientadores e a subsequente reedição na Wikipédia, são tarefas formativas dinâmicas, onde o estudante sente que está a fazer algo útil, produtivo, sujeito ao escrutínio público e com consequências.
  3. A experiência. A metodologia (e a tecnologia) subjacente à Wikipédia pode ser aplicada a outros projectos. Estou a pensar concretamente na sua aplicação em contextos temáticos e com grupos de autores mais restritos: Uma enciclopédia temática redigida por um grupo de colaboração composto por especialistas numa dada área, em que só entram novos membros através do convite de um ou mais dos participantes. Uma experiência dinâmica de produção e validação de conhecimento através de um processo permanente de revisão e crítica entre pares.
Ferramentas apoio

Para dar corpo a este apelo, decidimos seguir o exemplo de Ancheta Wis e Sage Ross e pôr de pé duas infraestruturas de colaboração no âmbito da história da ciência na Wikipédia lusófona: o Portal de História da ciência e o WikiProjecto de História da ciência. A primeira serve para organizar e dar alguma orientação para a consulta dos artigos sobre história da ciência, da medicina e da tecnologia. A segunda, o WikiProjecto de História da ciência visa criar e melhorar o conteúdo relacionado com a história da ciência (considerada com um significado amplo, onde também se incluem a história da medicina, a história da tecnologia, a história da matemática e os aspectos históricos da filosofia da ciência). Este projecto também procura assegurar a manutenção do Portal de História da ciência e melhorar a classificação e categorização dos artigos com ele relacionados. A página do projecto inclui várias ideias (passíveis de serem melhoradas) sobre o que pode ser feito.

A lista de participantes do projecto ainda só tem um nome (adivinhem qual), mas este apelo visa precisamente aumentar o seu número. Se pretender colaborar, registe-se na Wikipédia e junte o seu nome à lista de participantes na página do projecto. Não deixe igualmente de participar na sua página de discussão. Claro, que também pode dar a sua colaboração para a Wikipédia sem participar directamente no WikiProjecto.

Mesmo que não queira participar ou colaborar de alguma forma, esperamos que este apelo tenha servido para o sensibilizar para a necessidade de dar alguma atenção à Wikipédia.

Notas

[1] T. Mills Kelly. "Whither Wiki?". edwired. A website devoted to the teaching and learning of history online. Posted 14 Dez. 2005. http://chnm.gmu.edu/history/faculty/kelly/blogs/edwired/archives/2005/12/whither_wiki.html
[2] Jim Giles. "Internet encyclopaedias go head to head". Nature. Publ. online 14 Dez. 2005. http://www.nature.com/news/2005/051212/full/438900a.html
[3] WikiProject History of Science. Wikipedia. English version. http://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:WikiProject_History_of_Science
[4] Portal:History of science. Wikipedia. English version. http://en.wikipedia.org/wiki/Portal:History_of_science
[5] Portal de História da ciência. Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Hist%C3%B3ria_da_ci%C3%AAncia
[6] WikiProjecto de História da ciência. Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Projetos/Hist%C3%B3ria_da_ci%C3%AAncia

domingo, 12 de fevereiro de 2006

LER: History of Science disponibiliza artigos em PDF


History of Science (HS) é uma publicação da Science History Publications, Ltd. dedicada à história da ciência, da medicina e da tecnologia. HS permite agora que os seus volumes, e respectivos artigos, publicados entre 1998 e 2002 estejam disponíveis em versão PDF para poderem ser descarregados integralmente. São mais de oitenta artigos sobre diferentes temas da história da ciência. Disponível aqui.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

CONTEÚDOS: Joaquim dos Santos e Silva (1842-1906)

Joaquim dos Santos e Silva
  • Um contributo para a Wikipédia, a enciclopédia livre.

Joaquim dos Santos e Silva (1842-1906). Fonte: Rev. Quím. Pura Apl. 2(1906)117.
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Joaquim dos Santos e Silva (1842-1906). Fonte: Rev. Quím. Pura Apl. 2(1906)117.

Joaquim dos Santos e Silva (1842-1906). Farmacêutico, químico-analista e toxicologista português do Século XIX


Biografia

Farmacêutico pela Universidade de Coimbra. Em 1864, quando ainda era estudante, foi convidado para ajudante dos trabalhos práticos do Laboratório Químico da mesma Universidade. Nos anos lectivos de 1871/72 e 1872/73, foi autorizado a estudar na Alemanha, para se habilitar a dirigir os trabalhos práticos do Laboratório Químico. Estudou primeiro em Göttingen. Depois, terminou os seus estudos trabalhando no laboratório de Kekulé, em Bonn. Aqui obteve o ácido monobromo-canfo-carbónico e os seus sais de bário e prata, sobre os quais publicou uma memória no jornal da Sociedade Química de Berlim. No regresso, em 1873, foi-lhe atribuída a direcção dos trabalhos práticos no laboratório da Universidade de Coimbra. Aí, publicou os Elementos de análise química qualitativa (Coimbra, 1874; reed. 1884) e procedeu a inúmeras análises químicas de águas minerais. Dedicou-se igualmente à química toxicológica, colaborando na realização de análises toxicológicas ou químico-legais ordenadas pelos tribunais da Comarca de Coimbra, entre 1878 e 1899. Em 1892 participou, pelo lado da defesa, na polémica médico-legal do célebre caso de Urbino de Freitas, contra os pareceres do grupo de peritos onde participou António Joaquim Ferreira da Silva. Em 1899 foi nomeado químico analista do Conselho Médico-legal de Coimbra. Em 1902 foi nomeado professor de química legal e sanitária na Escola de Farmácia de Coimbra. Faleceu em 1906.

Bibliografia

  • Anónimo. "Necrologia. Joaquim dos Santos Silva", Jornal da Sociedade Farmacêutica Lusitana. 13,2(1906)58-60;
  • J. Ferreira da Silva. "Joaquim dos Santos e Silva", Revista de Química Pura e Aplicada. 2(1906)117-120.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

LER: Ordens Religiosas em Portugal - Guia Histórico


Acaba de ser publicado pela Livros Horizonte o livro Ordens Religiosas em Portugal: das origens a Trento - Guia Histórico, sob a direcção do Prof. Bernardo Vasconcelos e Sousa e autoria de Isabel Castro Pina, Maria Filomena Andrade e Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva Santos. Esta obra é uma publicação do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa onde decorre um projecto com a mesma designação e que procura conhecer as etapas de implementação e de desenvolvimento das Ordens Religiosas em Portugal desde as origens ao final do século XVI. Este Guia Histórico disponibiliza notícias históricas sobre todas as Ordens Religiosas medievais que actuaram em Portugal no período referido anteriormente e sobre os 450 conventos e mosteiros por elas fundados nos continentes e ilhas; cartografia da localização dos conventos e mosteiros; indicação das fontes documentais já publicadas; localização das fontes manuscritas disponíveis no Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo, nos Arquivos Distritais, na Biblioteca Nacional e em outros arquivos do país, com a indicação sumária da sua dimensão e conteúdo; bibliografia actualizada sobre as Ordens e os conventos e mosteiros referidos, incluindo dissertações académicas mais recentes; e, informação sumária sobre o estado actual dos conventos e mosteiros. Tem o preço de 38 Euros.

Na perspectiva da História das Ciências, a interacção entre a religião e a medicina durante a Antiguidade e a Idade Média permite-nos compreender melhor a razão pela qual a prestação de cuidados médicos constituiram um aspecto central na vida das Ordens Religiosas. Não obstante o facto de os hospitais e do ensino médico se ter processado a partir das estruturas da Igreja, o que demonstra que o pensamento religioso teve um papel estruturante na história das ciências da saúde em Portugal. A título de exemplo, veja-se o trabalho da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus que depois do martírio do Santo que lhe dá o nome, se implementa em Portugal entre 1606 e 1834, altura em que se dá a extinção das Ordens Religiosas. Vocacionada para a prestação de cuidados médicos a doentes mentais e crianças, a Ordem Hospitaleira de S. João de Deus regressa a Portugal em 1890, cumprindo a sua missão no Hospício de S. Marta em Lisboa e no Asilo de crianças doentes em Aldeia da Ponte. Mais tarde, o Beato Bento Menni funda a Casa de Saúde do Telhal para tratamento somente de homens afectados de doenças mentais, dirigida e servida pelos Irmãos Hospitaleiros de S. João de Deus. E aí a evolução dos cuidados médicos prestados aos doentes tornou-se paradigmática do papel das Ordens Religiosas na história das ciências da saúde em Portugal. Claro está, a título de exemplo.
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«Consciente da importância que as ordens religiosas tiveram nos mais variados aspectos da história medieval de Portugal, não posso deixar de me regozijar pela publicação deste Guia. Estou firmemente convencido que prestará serviços inestimáveis tanto a historiadores como a investigadores interessados na conservação do património e no estudo da história local. Trata-se de um Guia que reúne informações de base com indicações do que o leitor, desejoso de saber mais, precisa de ter em conta para avançar com segurança nas suas pesquisas. Também estou em condições privilegiadas para poder recomendar uma obra cujos méritos sei apreciar com objectividade, porque conheço as numerosas dificuldades que os seus autores tiveram de vencer e posso garantir as suas qualidades de rigor e de crítica, no trabalho que têm vindo a desenvolver.» (José Mattoso)