domingo, 18 de dezembro de 2005

CONTEÚDOS: Fausto Lopo de Carvalho (1890-1970)

Outra nota redigida para a Wikipédia.

Fausto Lopo de Carvalho

Fausto Lopo de Carvalho (1890-1970). Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa (FML). N. na Guarda em 15-5-1890. Filho do tisiologista Lopo José de Figueiredo Carvalho. Estudou em Coimbra, onde terminou o curso de Medicina em 1916. Iniciou a carreira docente nessa Universidade, sendo transferido para a Faculdade de Medicina de Lisboa em 1927 como professor de Propedêutica médica. Em 1931, comunica à Academia das Ciências de Lisboa os resultados dos trabalhos que levaram à descoberta da Angiopneumografia, juntamente com António Egas Moniz e Almeida Lima. Foi presidente da Comissão Executiva da Assistência Nacional aos Tuberculosos (A.N.T.) desde Janeiro de 1931 até 1938. Desde 1934 passou a dirigir a Clínica de Doenças Infecciosas do Hospital Escolar de Santa Marta, da FML, onde se manteve até atingir o limite de idade. Em Maio de 1934 foi eleito sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, passando a sócio efectivo em 1956, ocupando a cadeira que ficara vaga com a morte de António Egas Moniz. Em 1937 dirigiu a organização, com a restante direcção da ANT, do X Congresso da União Internacional contra a Tuberculose, que teve lugar em Lisboa. Foi então eleito presitente dessa União, cargo onde se manteve até 1950. Jubilado em 15-5-1960. F. 23-5-1970.

Bibliografia

Anónimo. Fausto Lopo Patrício de Carvalho - Bibliografia. Anuário Académico de 1943 (1943) 264-67; Binet, L. Professor Lopo de Carvalho. Gazeta Médica Portuguesa. 13:3 (1960) 231-32; Cardia, M. Lopo de Carvalho na Escola Portuguesa de Angiografia. Porto: s.n., 1970 (Sep. O Médico, 996); Fontes, Vítor H. M. Elogio académico do Prof. Lopo de Carvalho. Memórias da Academia das Ciências de Lisboa. 14 (1970) 201-17; Vilar, T. George. Professor Doutor Lopo de Carvalho. Lisboa: Universidade de Lisboa, 1970 (Sep. Anuário da Universidade de Lisboa, 1969/1970 ).

CONTEÚDOS: Instituto Rocha Cabral

Mais uma curta nota para a Wikipédia em português, desta vez sobre o Instituto Rocha Cabral. Algumas da ligações são apenas para futuros artigos.

Instituto Rocha Cabral

O Instituto de Investigação Científica de Bento da Rocha Cabral, conhecido apenas por Instituto Rocha Cabral (IRC) é uma Fundação portuguesa com sede em Lisboa, de utilidade pública e sens fins lucrativos, criada em 1922 em cumprimento da disposição testamentária de Bento da Rocha Cabral, tendo por objectivo "a realização de trabalhos de investigação científica, principalmente no campo das ciências biológicas" (dos Estatutos). Inicialmente com quatro secções (Fisiologia, Histologia, Química Biológica e Bacteriologia) evoluiu posteriormente no sentido da Bioquímica, da Investigação Teórica (Computacional) e da História e Filosofia das Ciências.
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Bento da Rocha Cabral

História

O Instituto Rocha Cabral foi criado em resultado do testamento, aberto em 1921, de B. Rocha Cabral, que deixou a maior parte da sua fortuna, amealhada no Brasil, para a criação de um instituto de investigação que deveria ser dirigido por Matias Boleto Ferreira de Mira (1875-1953), professor de Química Fisiológica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. O instituto iniciou a sua instalação em 1923, com profundas obras de adaptação da antiga morada de habitação do fundador. As actividades de investigação foram iniciadas em Novembro de 1925, com quatro investigadores: M. B. Ferreira de Mira e seu filho Manuel Ferreira de Mira (ob. 1929), Luís Simões Raposo e Fausto Lopo de Carvalho (1890-1970). De acordo com a orientação dada pelo seu primeiro director, o Instituto dedicou-se principalmente à investigação pura, sem esquecer o apoio à investigação aplicada. Constituiram-se quatro secções: Fisiologia (tutelada por Joaquim Fontes e Marck Athias), Histologia (por Augusto Celestino da Costa), Química biológica (M. B. Ferreira de Mira e depois Kurt Jacobsohn) e Bacteriologia (primeiro com Lopo de Carvalho e M. Ferreira de Mira, e depois da morte deste, com Alberto de Carvalho). O Instituto acolheu as primeiras investigações com animais que levaram à descoberta da Angiografia por António Egas Moniz, assim como as que conduziram ao desenvolvimento da Angiopneumografia, também por este investigador, juntamente com Almeida Lima e Fausto Lopo de Carvalho. O Instituto acolheu e apoiou um conjunto muito apreciável de investigadores, incluindo, entre outros e para além dos já referidos, o parasitologista Carlos França (1877-1926), a fitopatologista Matilde Bensaúde (1890-1969), a primeira portuguesa doutorada nas ciências biológicas e o Padre Joaquim da Silva Tavares, S.J. (1866-1931), o fundador da revista Brotéria.


Bibliografia

Rocha Cabral, Instituto. O Instituto de Investigação Scientifica Bento da Rocha Cabral. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1926; Mira, M. B. Ferreira. ``O Instituto Rocha Cabral e a sua obra. A Medicina Contemporânea. 57,24(1939)277-281; O Instituto Rocha Cabral e a sua obra: conferência realizada no Porto, em 22 de Abril, a convite da Liga de Profilaxia Social. S.l.: s.n., 1939; Mira, M. B. Ferreira. ``Sete anos de investigação científica. Actualidades Biológicas, 6 (1934) 1-57.


Ligações Externas

Página do Instituto Rocha Cabral; Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral

Página do Instituto Rocha Cabral Secção de História e Filosofia das Ciências do Instituto Rocha Cabral

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

CONTEÚDOS: Matilde Bensaúde (1890-1969)

Este é o texto de uma curta entrada sobre Matilde Bensaúde que acabei de publicar na Wikipédia em português. Faz parte de um conjunto de notas biográficas sobre investigadores das ciências biológicas da primeira metade do século XX, produzidas no âmbito do Projecto PRINCIPIA, que iremos resumir e publicar na Wikipédia.

Matilde Bensaúde

Matilde Bensaúde (1890-1969). Portuguesa pioneira da investigação biológica. Doutorou-se em 1918 com uma tese muito original sobre a sexualidade dos Basidiomicetos. Nasceu em Lisboa em 1890, filha de Alfredo Bensaúde (1856-1941), o fundador e primeiro director do Instituto Superior Técnico de Lisboa. Concluiu os estudos secundários na Suíça em 1909.
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Matilde Bensaúde (1890-1969).
Iniciou os estudos universitários em Lausanne, mas interrompeu-os para voltar a Portugal, só os retomando em 1913, quando se matriculou na Universidade de Paris. Estudou ciências naturais, licenciando-se em 1916. Trabalhou para o seu doutoramento no Laboratório de Botânica da École Normale Supérieure, sob a direcção do Prof. Matruchot. A investigação de doutoramento resultou na tese Recherches sur le cycle évolutif et la sexualité chez les basidiomycètes (Nemours, 1918). Aí estabeleceu e demonstrou a noção de heterotalismo nos autobasidiomicetos, a ideia mais importante para a explicação do mecanismo da sexualidade dos basidiomicetos. Este trabalho, que decorreu durante a I Guerra Mundial, foi desenvolvido independentemente e em simultâneo pelo botânico alemão Hans Kniep (1881-1930), embora este só tenha publicado as suas conclusões sobre o heterotalismo dois anos depois de Bensaúde.

Em 1920, foi a única mulher entre os fundadores da Sociedade Portuguesa de Biologia. Passou a maior parte do período entre 1919 e 1923 nos Estados Unidos da América, para onde se foi especializar em Fitopatologia. Estes trabalhos foram interrompidos pela sua ida para os Açores, onde se estabeleceu de 1923 a 1926. Em 1928, entrou como investigadora para o Instituto Rocha Cabral, em Lisboa. Em 1931 foi convidada para organizar e dirigir a estrutura fitossanitária do Ministério da Agricultura, onde desenvolveu uma actividade muito intensa. Em 1940, com apenas 50 anos de idade, solicitou a rescisão do seu contrato no Ministério e retirou-se. Faleceu em 1969.

Bibliografia:
Quintanilha,A. Mathilde Bensaúde. 23-1-1890-22-11-1969. Boletim da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais. 13(1972)5-19.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

CONTEÚDOS: Einstein e o estudante português

Imagine-se um estudante, despertado pelas comemorações do Ano Internacional da Física, que se decide a seguir o percurso de Einstein: ele pretende estudar na Universidade o que o festejado físico estudou. Einstein recebeu em 1900 um diploma em ‘professor de liceu para a área da matemática’.
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A maior parte das cadeiras são de facto de Matemática: Geometria Descritiva, Geometria Projectiva, Teoria de Funções, Funções Elípticas, Cálculo de Variações, Teoria do Integral Definido, entre outras. Para realizar um tal conjunto de disciplinas o estudante pensaria em matricular-se numa Licenciatura em Matemática. Acontece que do curriculum fazem parte um considerável conjunto de cadeiras de Física: Princípios, Instrumentos e Métodos de Medida da Electrotécnica, Trabalho Científico no Laboratório de Física, Electrotécnica Laboratorial, Introdução à Electromecânica, Introdução à Física Celeste, Introdução à Astronomia, Mecânica Celeste, entre outras. Para fazer tais cadeiras o estudante português escolherá uma licenciatura em Física. Mas se se matricular em Física, terá certamente de fazer um requerimento para lhe reconhecerem as cadeiras do departamento de Matemática.
O estudante continua a ler a relação das cadeiras do certificado de curso de Einstein e encontra: Teoria do Conhecimento Científico e Filosofia de Kant. Ora, para fazer a Filosofia de Kant, o estudante tem de ir ao departamento de Filosofia. Aqui as coisas tornam-se mais complicadas.
No ano passado houve um estudante do departamento de Filosofia, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que pretendeu fazer duas cadeiras em Ciências. Meteu um requerimento. Como Letras e Ciências não começam o semestre ao mesmo tempo, mas têm um desfasamento de duas a três semanas, quando o requerimento deu entrada, tinham decorrido cerca de duas semanas de aulas. A resposta ao pedido foi positiva, mas quando o estudante chega a Ciências tinha passado metade do semestre de Ciências. O estudante que queira seguir as pisadas de Einstein tem ainda outras dificuldades.
Do curriculum do famoso físico constam, entre as cadeiras opcionais: Pré-história, Política Suíça, História da Cultura Suiça na Idade Média e na Reforma, Negócios de Banco e de Bolsa, Consequências Sociais da Livre Concorrência, Teorias Fundamentais da Economia Nacional, Fundamentos Matemáticos da Estatística e do Seguro de Pessoas, Goethe: Obra e Cosmovisão. Como o curso foi feito em Zurique, o nosso estudante poderia substituir as cadeiras em temáticas suíças por cadeiras sobre história, política ou cultura portuguesa. Mas para frequentar a História de Portugal na Idade Média, etc. o estudante precisa de fazer um requerimento à Faculdade de Letras, departamento de História. As disciplinas de Economia exigiriam certamente mais requerimentos.
Supondo que as respostas aos requerimentos eram positivas, haveria uma dificuldade não menor, a prática. Será que o estudante vai coordenar requerimentos, respostas e horários das cadeiras de modo a fazer tudo em 4 anos? Será que o estudante vai estar em condições de ser avaliado por exame nas cadeiras das diferentes Faculdades? Há aqui um aspecto do curriculum suíço que interessa.
Einstein não teve de realizar exames em todas as cadeiras. Em Portugal, a cadeira é reconhecida se o estudante tem nota. Ora a preparação para exame, a aprendizagem daquilo que o professor pretende que se saiba, é mais difícil e consequentemente mais morosa do que o estudo do que o estudante está em condições de apreender e em princípio faz por interesse. Na verdade, Albert Einstein teve a possibilidade de realizar um curso no final do sec. XIX, que o estudante português não tem no início do séc. XXI. Mas, porque não deixar os estudantes portugueses seguir as pisadas de Einstein?
  • Referência bibliográfica: Albert Einstein. Collected Papers of Albert Einstein. Vol. I. J. Stachel (ed.) (1987). Princeton: Princeton University Press.